O jornalista gabrielense, poeta e empresário do setor cultural Rossyr Berny está em São Gabriel nesta semana para participar ativamente da Semana Nacional do Trânsito, com palestras sobre o aspecto das perdas e luto no trânsito em escolas municipais, além de visitar a redação do site Caderno7, nesta quarta (22). Ele dará mais uma palestra sobre o tema na Escola que leva o nome de sua saudosa irmã, Maria Carolina Berny.
Ele teve duas experiências tristes que marcaram sua vida e o levaram a relatar o perdão e o entendimento, sem esquecer de destacar os cuidados para que as tragédias não ocorram - Rossyr perdeu a irmã, professora Maria Carolina Berny de Oliveira, que denomina a escola municipal existente no Bairro Medianeira e o pai, Ervandil Vieira de Oliveira, ambos vítimas de atropelamento em momentos distintos da vida.
Rossyr deu palestra na Escola Mascarenhas de Moraes, na terça (21), na localidade de Catuçaba, em atividade idealizada e coordenada pela diretora Maria Sodenir. Pela manhã houve destacadas palestras de Giovani Vieira dos Santos, do CFC Gabrielense, e do Sgt. PM Ivan Alves Rodrigues, os quais discorreram sobre a necessidade de motoristas e futuros motoristas, caso dos muitos jovens presentes, tentam consciência da importância do respeito às leis de trânsito, para a segurança e o benefício de condutores, pedestres, ciclistas e a população em geral.
Rossyr com o editor do site, Marcelo Ribeiro, em visita à redação do Caderno7 |
À tarde, Rossyr palestrou, com emocionado depoimento, abordando o aspecto do luto pelas perdas fatais ocorridas no trânsito, e das dores que estas trágicas mortes trazem aos familiares, marcando-os por suas vidas inteiras. Aproveitou o encontro para ilustrar com declamação de alguns poemas seus. Também apresentou no encontro sua maior conquista, que foi o Prêmio Açorianos de Literatura, concedido no final do ano passado pela Prefeitura de Porto Alegre, pelo conjunto de sua obra de 22 livros ao longo de 45 anos dedicados à escrita de poemas, romances, biografias e traduções.
Nas palestras, Rossyr rememorou duas grandes perdas em acidentes de trânsito: a de sua irmã, Maria Carolina Berny de Oliveira, que lecionava na então Escola Aquiles Porto Alegre, no Bairro Medianeira, onde em 13 de abril de 1973, com apenas 23 anos, ao atravessar a BR-290 para mais um dia de trabalho, acabou atropelada e não resistiu. Era uma manhã que ela iria entregar agrados para seus alunos, pois era a segunda-feira seguinte ao Domingo de Páscoa. Em sua homenagem por proposição do vereador José Américo Teixeira, a Escola passou a levar seu nome e tem como atual diretora, a professora Simone Gama.
Outra tragédia abalaria o poeta Rossyr e sua grande família, com o atropelamento e morte de seu pai Ervandil Vieira de Oliveira, frente à antiga Cooperativa dos Leiteiros, na Barão de São Gabriel. Carroceiro que era, ali fora comprar ração para o cavalo, vaca e outros animais de casa. A tragédia se deu pelo fato de o condutor, que levava uma corta-e-trilha na oficina para conserto de freios, ao invés de subir a rua Barão de São Gabriel, desceu-a e a máquina ficou desgovernada, atropelado carroça e carroceiro, matando seu pai.
Ao final da palestra, o poeta falou que foram necessárias décadas para que houvesse o perdão de quem tirou as vidas de sua irmã e seu pai. Entendeu que foram acidentes e não havia intenção alguma de matar. E todos, enfim, podem cometer grandes males sem a intenção deliberada de causar tragédias. Confessou que o perdão fez, inclusive, com que tenha esquecido os nomes dos dois motoristas que causaram as mortes de seu pai e irmã - o que, por décadas, parecia impossível.
Por isso elogiou muito a iniciativa da diretora Sodê Freitas em promover encontros para a orientação de alunos por profissionais do trânsito para que perdas não venham a enlutar novas famílias. "Que os alunos possam conversar em suas casas, com seus familiares sobre a necessidade da direção responsável, porque a educação no trânsito começa pelas crianças", salientou o escritor.
Na próxima sexta-feira, 24, Rossyr Berny estará palestrando na Escola Carolina Berny sobre o importante tema do luto pelas perdas no trânsito, o perdão e o entendimento – mas destacando os cuidados para que tragédias não ocorram, traumatizando a todos, cada vez mais, dolorosamente.
Alguns poemas de Rossyr Berny sobre suas perdas familiares; e sobre sua amada São Gabriel.
(poema INÉDITO)
ERVANDIL VIEIRA DE OLIVEIRA
Meu pai é Cristo vivo
Disfarçou-se de homem comum a vida toda
para ensinar a sermos melhores
Pelo sofrimento e pelo perdão
A crucificação que o mataria
foi substituída pela corta-e- trilha
que o atropelou na rua Barão de São Gabriel
De cima de sua carroça pela cidade
fazia fretes de lojas, mudanças
– E o mais que somasse algum dinheiro
ao alimento que trazia pra casa
Todo dia a vida toda
Servia a 16 vidas postas à mesa
Café almoço janta e o amor diário
Ervandil Vieira de Oliveira
é iluminado livro que nunca se fecha
Para que lições não se apaguem
e o mundo se salve das maldades
Ficou destroçado pela perda da filha
Carolina atropelada no trânsito louco
Morreria novamente
caso visse sua amada Maria
ser devorada pelo Alzheimer e outros males
A lembrança e a saudade de meu pai
traz a coragem enorme de lutar
– E melhorar o mundo para todos
= = = = = = = = = =
Venho ver Cora em casa
Meu verso,
água corrente
é semente (C.C.)
Venho encontrar Cora em casa
Cora. Sagrada poeta goiana
Lina. Minha irmã Carolina morta no trânsito
Anjos terrestres
ensinavam lições celestes
Coralina
Carolina
Cora descobriu-se poeta quando bem velhinha
Lina não teve chance de envelhecer
Cora. O marido amordaçou sua indomável poesia
Lina. Ondino crucificou no asfalto seus dias
Cora corajosa fugiu de casa e finou-se aos 96 anos
Lina ajudou criar 12 irmãos e partiu solteira aos 23
Anjos terrestres
= = = = = = = = = =
Ressurreição em rocha e fibra de carbono
Meu pai morto no trânsito
volta em corpo de pedra
Elmo, armadura medieval de ferro
Gladiador romano moderno
Carroça cavalo arreios
voltam em madeira de lei e fibra de carbono
Inquebráveis
Em pesadelo chega o Amaranto
puxando a carroça do pai
De quatro, o algoz
Olhos de bandido de todo bandido
O pai volta em sonho montado nele
Surrando o assassino lerdo
(Dirigindo a corte-e-trilha
que corta-trilhou o pobre carroceiro)
O velho Ervandil está apressado
Preocupado
em levar almoço para a família
e ração pros bichos
Deixou 12 filhos e mulher esperando à mesa
Famintos por justiça impossível
desde seu atropelamento há décadas
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 23/09/2021 08h40
Contato da Redação: (55) 996045197 / 991914564
E-mail: blogcadernosete@gmail.com
jornalismo@caderno7.com