Paleontólogo
Universidade Federal do Pampa
As rochas de São Gabriel guardam centenas de milhões de anos da história da vida, e a Paleontologia é certamente um dos tesouros mais preciosos do município. Muitos conhecem os inúmeros ossos do pequeno mesossauro, encontrados em pontos selecionados ao longo das margens do Rio Santa Maria. Um pouco menos conhecidos, o Pampaphoneus e o Tiarajudens – que carregam no nome a identidade de São Gabriel – foram criaturas fascinantes que viveram muito antes dos primeiros dinossauros. Embora ainda pouco populares entre os gabrielenses, esses animais já foram destaque em publicações como a National Geographic e BBC.
A importância dos fósseis de São Gabriel vai além do interesse científico. Eles são, acima de tudo, parte do patrimônio cultural, nutrindo a identidade da região e oferecendo potencial para políticas de captação de renda. Um exemplo inspirador são as pequenas cidades da Quarta Colônia, que hoje recebem investimentos significativos graças ao turismo paleontológico.
A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) ocupa uma posição central nas descobertas e na preservação do patrimônio paleontológico de São Gabriel. Como instituição pública, a Unipampa conduz pesquisas intensivas na região em colaboração com várias universidades brasileiras e internacionais. Nos últimos anos, a Unipampa tem intensificado a coleta de fósseis nos limites do município, e já não é raro ver o nome de São Gabriel em veículos de comunicação renomados. O setor de Paleontologia da Unipampa está totalmente equipado para assegurar o armazenamento adequado dos fósseis e adota uma política de coleção aberta, permitindo o acesso a pesquisadores e a todos que desejem conhecer mais sobre a história ecológica do Pampa.
Ainda assim, esse patrimônio segue ameaçado por instituições de grandes centros urbanos que, há décadas, coletam valiosos fósseis em São Gabriel e os armazenam permanentemente em suas coleções. Esses acervos acabam se tornando, muitas vezes, de difícil acesso para aqueles a quem realmente interessam: a população local, que nutre laços identitários com os fósseis do Pampa, e as crianças, que poderiam ser inspiradas e educadas pelo contato direto com esses incríveis animais.
Essa prática poderia ser justificável caso São Gabriel não estivesse apta a garantir a segurança desse tesouro – o que, felizmente, não é o caso. Podemos nos orgulhar de ter construído uma instituição reconhecida pelo cuidado e pelo compromisso com o acesso público ao seu acervo científico. Acreditamos, portanto, que o patrimônio paleontológico de São Gabriel deve permanecer na cidade, acessível a qualquer pesquisador que deseje estudá-lo. Que esse tesouro único sirva não só para consolidar São Gabriel como um centro de referência científica global, mas também para inspirar iniciativas de turismo geológico sustentável, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento da região.