Depoimento de Elisandro Spohr foi marcado por momento de desespero ao relembrar dia da tragédia e abriu etapa de pronunciamentos dos réus, na noite de quarta (foto Juliano Verardi/TJRS/Especial C7) |
O maior julgamento da Justiça gaúcha pode terminar entre a sexta e sábado, 11 de novembro. O júri do caso Kiss, que iniciou em 1º de dezembro no Foro Central de Porto Alegre, entra na reta final com o depoimento dos réus e os argumentos da defesa e acusação. Os depoimentos dos réus foram iniciados com Elisandro Spohr, o Kiko, ex-proprietário da boate incendiada na madrugada de 27 de janeiro de 2013, na noite desta quarta (8).
O depoimento dos réus foi aberto com Spohr, que em um dado momento da narrativa após relato de sua vida profissional e relação com a Kiss e ao chegar nos fatos dia do incêndio, entrou em nítido e chocante desespero. "Querem me prender, me prendam. Estou cansado", desabafou, em tom de voz mais elevado, intercalado com choro e engasgo, em uma cena forte.
Ele afirmou que perdeu amigos, funcionários e que recebeu mensagens de pessoas dizendo que ele deveria “se matar”. Nesses momentos, deixou de falar ao microfone do júri e se virou em direção às famílias das vítimas que acompanham no plenário. Disse que nunca desejou a tragédia e que a Kiss era uma boa casa de festas. Enquanto Spohr se justificava, aos prantos e gesticulando nervosamente, parentes de falecidos na tragédia deram as mãos e se abraçaram, em corrente.
Um intervalo de 40 minutos para a janta foi chamado para interromper esse momento de maior comoção e dor desde o começo do júri. No seu depoimento, Spohr alegou que tentou cumprir as determinações dadas por engenheiros, que teriam divergido sobre as questões do isolamento acústico e o uso da espuma para esta finalidade.
Spohr seguiu seu relato contando que Samara estava muito ocupado e, por isso, teria recebido a sugestão de que ele próprio providenciasse a colocação de espuma no palco da Kiss. Inicialmente, usou retalhos velhos que tinha na boate guardados, os quais Pedroso havia mandado arrancar no passado. O réu disse não ter gostado do resultado estético e explicou ter comprado novo composto, que foi instalado por seus funcionários.
Foi essa espuma que, no dia da tragédia, acabou incendiando ao ser alcançada por fagulhas de um artefato pirotécnico erguido pelo vocalista Marcelo de Jesus dos Santos, da banda Gurizada Fandangueira.
A parte de testemunhas foi encerrada com o ex-prefeito de Santa Maria, Cesar Schirmer e o promotor de Justiça do caso na cidade, Ricardo Lozza. Durante o depoimento de Schirmer, que para muitos deveria também responder pela tragédia por conta da fiscalização não ter agido para evitar o ocorrido em 2013, os pais das vítimas se retiraram do plenário do Foro central.
A última rodada de depoimentos foi aberta com o ex-prefeito, que alegou que "não fez nada" assim como que a boate teria sido multada sete vezes ao longo de sua existência, além de fazer defesa de sua gestão, o que foi veementemente contestado por familiares das vítimas, que protestaram do lado de fora do Foro Central de Porto Alegre.
O promotor Ricardo Lozza falou sobre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que a Kiss deveria cumprir para isolamento acústico, mas que muitas das afirmações da defesa dos réus não eram verdade como supostas recomendações e que a atribuição de fechar a casa noturna era da Prefeitura, não do Ministério Público. Ainda depuseram o publicitário Fernando Bergoli e o representante comercial Geandro Kleber de Vargas Guedes, que falaram sobre a relação entre Kiko e Mauro.
Os depoimentos dos réus seguem com o produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão, o ex-sócio de Spohr, Mauro Hoffmann e o vocalista Marcelo Jesus dos Santos, que acionou o artefato pirotécnico que causou a tragédia na infausta madrugada de 27 de janeiro de 2013. Após estes, ocorrerão as exposições das teses e debates da Promotoria e dos advogados dos réus, com réplicas e tréplicas.
Terminada esta parte, os jurados se reunirão na sala secreta para definir se culpam os réus e o juiz Orlando Faccini Neto definirá e promulgará a sentença de cada um. A previsão é de que a sentença possa sair entre a noite de sexta e possivelmente a madrugada de sábado, dependendo de quando for concluídos os depoimentos dos réus e a parte de debates, que ficou estabelecida em nove horas.
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 09/12/2021 08h28
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