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06 setembro 2020

Na Gaveta!

Yuri Cougo Dias
Colunista do site

NO BRASIL, TÉCNICO SE TROCA MAIS QUE CAMISETA
Fala pessoal! Tudo certo? O assunto que trago na coluna de hoje parece batido. Porém, se dos tempos para cá, pouco mudou, ele ainda se faz necessário. O que eu me refiro é a cultura no Brasil de trocar treinadores como se troca de camiseta. Na edição deste ano do Brasileirão, com apenas sete rodadas, seis dos 20 times já alteraram o comando da casamata. 

A fila abriu já na quarta rodada, com Eduardo Barroca (Coritiba) e Ney Franco (Goiás). Na quinta rodada, os escolhidos foram Daniel Paulista (Sport) e Dorival Júnior (Athletico-PR). Na sexta, Felipe Conceição (RB Bragantino). E a última “vítima” foi Roger Machado (Bahia), demitido quarta-feira (2), após ter sido goleado pelo Flamengo, em casa, por 5 a 3, pela sétima rodada.

É possível que alguém fique pensando: “mas o Roger já não estava há cerca de um ano e cinco meses no Bahia?” Sim, de fato. A questão não é com ele, especificamente; o raciocínio é mais amplo. Com a demissão de Roger, a edição do Brasileirão escancara um cenário de quase uma demissão por rodada. 

E isso que estou considerando apenas o Brasileirão. Mas se levar em conta o ano inteiro, dos 20 times da série A, 14 deles já trocaram de técnico. Apenas não mudaram Corinthians (Tiago Nunes), Inter (Eduardo Coudet), Fortaleza (Rogério Ceni), Palmeiras (Vanderlei Luxemburgo), São Paulo (Fernando Diniz) e Grêmio (Renato Portaluppi). Aliás, Renato merece destaque, pois, é um caso bem a parte no futebol brasileiro. No dia 18 de setembro, completará quatro anos consecutivos como técnico do Tricolor gaúcho. 

Se não fosse a pandemia, era bem possível que algum desses seis que permanecem no cargo, desde o início da temporada, já tivessem balançado. Contestações não faltaram, por exemplo, para Tiago Nunes, que iniciou o Paulistão com uma campanha irregular. Entretanto, a direção do Corinthians bancou sua permanência e Tiago colocou o time na final. Contestações também não deixaram de acontecer com Eduardo Coudet, que dos quatro Gre-Nais disputados em 2020, perdeu três e empatou um. Hoje, é o líder do Brasileirão. Terá fôlego para se manter na ponta? Não sei, as próximas rodadas que vão dizer.

Não é errado demitir treinadores. Até porque, em todos os casos, foram consequências de resultados adversos. O problema é o exagero nisso. Notadamente, detecta-se dentro das rotinas dos clubes, imensos problemas de gestão, de estrutura, de qualidade no elenco. É fato que o treinador é uma peça essencial para a engrenagem. Mas a impressão que se dá é que o motivo dos resultados negativos seria única e exclusivamente dele. Ele tem culpa? Sim. Porém, o fardo não é somente dele. Há outros fatores internos que também influenciam no rendimento da equipe. E isso costuma ser colocado em pauta?

Também não vou tirar da reta a contribuição da imprensa nesse ciclo vicioso. Basta uma equipe ficar três a quatro jogos sem vencer que os debates e programas esportivos começam a girar em torno de uma eventual demissão daquele treinador. É claro que não é a imprensa que demite; nem é ela que perde o jogo. Entretanto, o discurso fica tão forte que demitir um treinador passa a se tornar, para o torcedor, algo banal e a solução mais rápida. Mas, às vezes, o buraco é bem mais embaixo (leia-se Cruzeiro e Inter, nas temporadas em que foram rebaixados).

Há quem diga que os técnicos brasileiros têm parcela nessa situação, pelo fato de estarem desatualizados. E como contrapartida, os estrangeiros teriam ganhado mais espaço. Exemplos disso seriam as passagens do português Jorge Jesus, pelo Flamengo, e dos argentinos Jorge Sampaoli, por Santos e Atlético-MG, e Eduardo Coudet, no Inter. No entanto, por mais que mereça destaque, essa é outra discussão. A cultura de demissão precoce dos técnicos no Brasil vai além da nacionalidade, mas sim, da forma como os resultados positivos e negativos são analisados dentro do processo. Um bom final de semana a todos!!!
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