Colunista do site
PRECISAMOS FALAR SOBRE O FUTEBOL DO INTERIOR!
Fala pessoal! Tudo certo com vocês? Com o futebol do interior, não. O cancelamento da Divisão de Acesso expõe um cenário que todo mundo sabia que existia. Entretanto, poucos se preocupavam em fazer uma discussão mais ampla para tentar solucioná-lo. Se não fossem alguns guerreiros, um desmanche já teria sido causado no interior. Porém, se isso era sinal alarmante nos últimos anos, a pandemia pode tornar essa infeliz perspectiva real.
Da mesma forma que em outros setores da sociedade, os problemas já eram vistos; porém, sempre postergados. Agora, não há outro jeito: é preciso arrumar a casa. Todos sabem que o modelo do futebol gaúcho está cada vez mais inviável e menos atrativo para um consumidor que tem cada vez mais acesso ao que rola de futebol pelo mundo. E como prender à audiência desse público dentro de suas cidades?
A discussão começa pela remodelação do calendário. E é nesse ponto que entra a preocupação para o futuro. Em 2021, algumas competições iniciarão atrasadas. O Gauchão, por exemplo, começará somente em março, em razão do Brasileirão encerrar apenas em fevereiro. E, a partir disso, a intenção da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) é de que a Divisão de Acesso comece entre o final de maio e início de junho, mais precisamente após o término do Gauchão.
Caso essa ideia tome corpo, os 16 clubes da Divisão de Acesso ficariam mais de um ano parados. Acontece que a competição teve somente três rodadas realizadas até a parada da pandemia, em março. E após mais de cinco meses de negociações, o Acesso foi oficialmente cancelado na semana passada. Levando em conta a ideia da FGF, de datas para 2021, isso significa que os clubes ficariam mais de um ano com as portas fechadas, o que representa um risco altíssimo para falência.
Por essa razão, já começa a tomar forma um movimento, com lideranças do futebol do interior, em busca de uma reestruturação do calendário e do modelo das competições. A iniciativa vem sendo articulada, nos bastidores, por alguns treinadores, como Badico, Fabiano Borba, Cristian de Souza e Paulo Porto. O grupo está trabalhando num estudo, porém, dá para antecipar que uma das pautas que será colocada na mesa é um calendário que contemple, no mínimo, 10 meses de trabalho para jogadores, treinadores, membros de comissão técnica, funcionários e qualquer tipo de profissional que depende financeiramente do futebol do interior.
A ação tem como público-alvo as equipes que não fazem parte de nenhuma divisão nacional. No formato atual elas acabam sendo as mais prejudicadas, visto que primeiro semestre são oferecidas a Divisão de Acesso e Terceirona, com duração de três meses. E no segundo semestre, a Copinha, que também leva apenas três meses para ser realizada. Somadas as três divisões do futebol gaúcho, das 44 equipes profissionais em atividade no Rio Grande do Sul, apenas nove possuem divisão nacional, o que garante se manter em atividade num longo período. São elas: Inter e Grêmio (série A); Brasil de Pelotas e Juventude (série B); São José e Ypiranga (série C); Caxias, Pelotas e São Luiz (série D).
Para os jogadores, esse cenário é sempre motivo de problemas, por razões óbvias: o risco de desemprego. Por outro lado, parte dos clubes se contenta com essa situação. Pelo fato de carecerem de respaldo financeiro, muitos dirigentes argumentam que se as competições fossem prolongadas, não teriam condições para bancar os custos e salários dos profissionais.
Mas como ampliar o calendário dos clubes e fazer com que isso seja financeiramente viável? Tudo passa pela reformulação do conceito, desde o calendário, regulamento, ações de marketing, diálogo com a imprensa e captação de patrocinadores e investidores.
Alguns profissionais já deram o pontapé inicial para essa discussão. Agora, resta saber se o assunto será levado adiante. E assim veremos se a semente que foi plantada pela pandemia trouxe ou não algum impacto.