| Miguel Ramos faleceu neste domingo aos 66 anos (foto divulgação |
No domingo (9), às 20h30min, faleceu na UTI do Hospital São Lucas (PUC), em Porto Alegre, aos 66 anos, o ator uruguaianense Miguel Ramos, vítima de mieloma múltiplo (câncer na medula óssea). Desde maio de 2012 estava em tratamento na capital gaúcha. Nascido em 29 de setembro de 1947, Miguel Augusto Santurio Ramos, estudou no Colégio Marista Sant’Ana e iniciou sua trajetória artística no final dos anos 60, no Teatro de Arena, ao lado de Jairo de Andrade e de um grupo que marcou a cultura brasileira, na resistência aos anos de chumbo. Anos depois, em São Paulo, consolidou sua carreira e recebeu inúmeros prêmios. Fez sucesso com a peça Muro de Arrimo, do dramaturgo, escritor e poeta paulista, Carlos Queiroz Telles.
Mas, seu maior sucesso foi Mockinpott, texto do novelista alemão Peter Ulrich Weiss, dirigida pelo espanhol José Luiz Gomes. A montagem nasceu de um convênio com o Instituto Cultural Brasil-Alemanha, em 1975. Para dirigir o espetáculo, chega a Porto Alegre o espanhol José Luiz Gómez, que vence o prêmio de melhor ator do Festival de Cannes desse ano, pelo filme Pascal Duarte. Ele revoluciona tudo o que os gaúchos pensam sobre teatro. O texto escrito em versos mostra a conscientização de um sujeito pacato e alienado que, por uma sucessão de acontecimentos, torna-se vítima do sistema. E o diretor escolhe o picadeiro de um circo como cenário para contar a história, valorizada pelos figurinos da artista plástica argentina Renata Shussheime e a música do compositor gaúcho Flávio Oliveira, que mistura melodias conventuais da Idade Média com terno-de-reis do folclore gaúcho. Os ensaios duram até 15 horas consecutivas. Por vezes, o diretor obriga o ator a repetir determinada fala por três horas até que encontre o significado exato. "Mockinpott era um fio de violino, que ele esticou os atores na capacidade máxima e tirou o inacreditável de todo mundo, mas era resultado de muita exigência, de muita disciplina", testemunha Paulo Albuquerque, assistente de direção do espetáculo.
O crítico Luiz Carlos Lisboa faz a mesma avaliação sobre o papel de Gómez: "Ele trabalhou ator por ator, despersonalizou cada um e tornou-os maravilhosos marionetes que soube colocar no contexto da peça". O rigor do espanhol provoca dois adiamentos da estréia de Mockinpott, até que se desse por satisfeito. Depois de estrear em Porto Alegre, a peça percorre diversas capitais. No Rio de Janeiro, é recomendada com entusiasmo pela Associação Carioca de Críticos Teatrais - ACCT, presidida por Yan Michalski. Mas, em São Paulo, é proibida duas horas antes da estréia, motivando uma ampla campanha nacional contra a censura. Uma comissão integrada por artistas como Raul Cortez, Elis Regina e Ruth Escobar vai a Brasília e consegue sua liberação pelo Ministério da Justiça. Ao assistir o espetáculo, a renomada crítica de teatro Bárbara Heliodora, afirmou que conhecerá um ator Miguel Ramos, um misto de Charles Chaplin e Lawrence Olivier.
Em 1990, Miguel Ramos ganhou o prêmio Açorianos de Teatro por Informação para uma Academia, adaptação do texto de Franz Kafka, com apoio cultural do Instituto Goethe, quando apresentou este trabalho em cidades brasileiras, na Argentina e no Uruguai. Na TV Bandeirantes, de São Paulo, atuou no programa Praça da Alegria, num quadro com o consagrado ator e humorista José Vasconcellos. Entre outros atores Miguel Ramos, trabalhou com Gianfrancesco Guarnieri, Clênia Teixeira, José de Abreu, Eva Wilma, Paulo Betti, Bruna Lombardi, Tarcísio Meira Filho, Dilmar Messias e Simar Antunes.
Em Uruguaiana, Miguel Ramos foi diretor da Rádio São Miguel AM 880, onde apresentou os programas Show da Manhã, das 10h às 12h; Encontro Marcado, das 12h às 13h; Cidade Aberta, das 17h às 19h; e A Noite Tudo se Sabe, das 22h a meia-noite. Também, em Uruguaiana, apresentou programas na Rádio Imbaá FM e foi comentarista na Rádio Líder 99.9 FM.
Nos últimos anos, dedicou-se ao cinema, tendo conquistado o Kikito, no Festival Internacional de Cinema de Gramado (2005), como melhor ator coadjuvante por sua atuação no filme Cerro do Jarau, de Beto Souza e Tabajara Ruas. Ainda, foi agraciado com o Kikito de Melhor Ator (2009) por sua atuação no curta-metragem A Invasão do Alegrete, de Diego Müller. Participou, em 2003, da minissérie global A Casa das Sete Mulheres; e dos filmes O Tempo e o Vento, Concerto Campestre, Netto perde sua alma, Netto e o Domador de Cavalos, Filé de borboleta e outros causos, Mazel Tov e os Senhores da Guerra, seu último trabalho. Miguel Ramos foi vereador em Uruguaiana (2001-2004) e o primeiro secretário municipal de Cultura. Miguel Ramos foi vereador em Uruguaiana (2001-2004) e o primeiro secretário municipal de Cultura. Miguel era casado, há 38 anos, com a atriz e diretora de teatro, Clênia Teixeira.
O prefeito de Uruguaiana, Luiz Augusto Schneider decretou Luto Oficial de três dias (10, 11 e 12 de março), pela morte do ator Miguel Ramos. O velório aconteceu em Porto Alegre, no palco do Teatro Renascença, das 9h às 18h. Após a cremação, suas cinzas virão para sua cidade natal, Uruguaiana.












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