Colunista do blog
Grito de um “Quero Quero”: reminiscências
Num dia desses ao ouvir o grito de um “Quero Quero”, ave símbolo do Rio Grande por alguns segundos acabei viajando no tempo, fui lá na minha infância e acabei por vislumbrar a frente da Estância da Acácia no Azevedo Sodré, cheguei ouvir meu avô dizendo: “Tchê! Deve ter algum sorro lá na coxilha que levantou esse Quero Quero.” Sem querer vislumbrei a coxilha que ficava bem a frente da Estância e ao longe somente a sombra das aves que revoavam sobre alguma coisa que não se via(e o não ver era mágico fervia a imaginação). Rapidamente me dei conta que o campo é a maior aula de filosofia que se tem na vida, tanto que o filósofo alemão um dos pensadores fundamentais do século XX, Martin Heidegger, consagrou sua obra “O Caminho do Campo”, descrevendo toda a história do pensamento ocidental num caminho em um campo. A Obra começa assim: “Do portão do jardim do Castelo estende-se até as planícies úmidas do Ehnried. Sobre o muro, as velhas tílias do jardim acompanham-no com o olhar, estenda ele, pelo tempo da Páscoa, seu claro traço entre as sementeiras que nascem e as campinas que despertam, ou desapareça, pelo Natal, atrás da primeira colina, sobturbilhões de neve...”
Retratei a obra para falar da importância do campo, principalmente por despertar o questionamento sobre as coisas e nesse ponto está à importância da filosofia, gerar o questionamento para levar ao conhecimento por isso Φιλοσοφία, do grego amor à sabedoria.
O grito da ave criava a curiosidade, e eu questionava -“mas Vô o que será que tem pór lá? – Filho! Deve ser sorro, porque é na coxilha e geralmente lagarto mora mais perto de mato,” respondia. A curiosidade de guri ficava. Não me aguentava, então mais tarde juntava a cachorrada e ia dar uma olhada, numa dessas encontrei o que os europeus chamam de Cangambá! O popular Zurrilho, no fim da história a cachorrada pegou o pobre do bicho, sacudiram, estraguei minha roupa com o odor e só tirei o cheiro depois de 4 banhos. Os cachorros... Bá! Ficaram dias com o cheiro do animal.
Como diz a música Cansando o Cavalo, “...Mas sempre canso o cavalo, só pra dizer que eu vi...”
Nesse minutinho me dei conta de tanta coisa, mas a melhor dela é a de me conhecer, entender como sou, porque sou como sou. Somente o campo é capaz de responder, a Estância da Acácia do Cel. Décio Assis Brasil e do capataz João Machado me dá muitas das respostas da vida até hoje. A obra do Heidegger parece ter sido escrita entre a mangueira do gado até o açudezinho de banho...”
“...Só quando a lida me deixa descubro o mundo que eu vejo...”
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