Kelly Pinheiro e Caroline Zanini
Colunistas do blog
Roupas ou Chocolates?
Até que ponto a influência da “moda consumista” dos pais interfere na vida dos filhos.
Um bebê grande de plástico, com uma enorme cabeça, fazia a alegria de muitas meninas no início da década de 90. A brincadeira mais divertida era tentar colocar comida na boca do nenê, e fazer trocas de roupas e fraldas infinitas. Mas daí a menina cresceu e resolveu se divertir com brinquedo de criança grande: a Barbie! E o bebê, de cabeça desproporcional e corpo rechonchudo, cedeu lugar a uma loira peituda de cintura vespa.
Talvez este tenha sido o princípio. A Barbie não era um bebê. Era uma mini adulta embalada pela ilusão infantil. Mas as crianças cresceram e as fantasias tomaram a mesma proporção do seu desenvolvimento. Agora, o novo bebê seria de verdade, com cabeça proporcional e uma boca realmente funcional. A papinha e as roupas não são mais de faz de conta, tudo é real...
Bem, as roupas das Barbies também cresceram proporcionalmente ao tamanho dos nenês reais de algumas mães. A boneca sonho, que vestia imitações dos modelitos de gente grande cedeu seu guarda roupa a nova geração de bebês. E assim nasceu uma nova geração de crianças vestidas desproporcionalmente à idade que têm.
Em um primeiro momento, parece simpático, querido e até causa algum suspiro em uma mulher de idade fértil. Eles parecem mini adultos, extensões dos pais. Às vezes, inclusive, usam a mesma roupa e saem por ai assustando encantando algum passante.
Na segunda piscada, o cérebro já se recupera e raciocina: a verdadeira criança é aquela que transformou o filho em fantoche, ou ainda, em um mini croqui de testes. Salto alto para meninas de 4 anos, maquiagem para as de 2, esmalte para a de 6, calça jeans justa para o menino, colete. Quase uma armadura para quem deveria correr, pular e se jogar na vida. Muitos nem conhecem a verdadeira infância. Mas conhecem restaurantes, jogos eletrônicos, celulares. Decoram entretenimento que fixa o olho na tela e joga a mente no abismo inoperante.
A inocência se perde a cada minuto. A cada flash que uma mãe dispara para fazer o look do dia do seu modelo/manequim/muso/boneca/ filho. A cada roupa que prende, que sufoca a alma e impede a criança de se expressar como criança. A cada papinha congelada, a cada dia industrializado e compactado em telas e enlatados.
O maior atentado contra uma criança é privá-la da infância. Impedi-la de se sujar e obrigá-la a vestir-se como um adulto acarreta em transtornos psicológicos para o resto da vida ou, no mínimo, a impede de viver uma das melhores fases da vida, se não a melhor. A moda serve para encantar, mas não para transformar a vida em circo e colocar crianças no lugar de anões. Eles são pequenos, mas não adultos. A moda existe para ser consumida com parcimônia, como o doce do fim de semana. Porque nesta Páscoa, as crianças merecem chocolate e não roupas.
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