Eleições em Sampa e em Sanga: A doce ilusão do Novo
Pr. Cláudio Moreira
Jornalista, teólogo, presidente municipal do PSC
No último domingo eleitores de cerca de 50 cidades brasileiras voltaram às urnas para o segundo turno, concluindo finalmente o período das eleições municipais no país. Como era inevitável, o grande destaque ficou por conta das eleições em São Paulo, a maior cidade do país, onde o PT elegeu o ex-ministro da Educação Fernando Haddad em duelo contra o veterano José Serra, apoiado pelo atual prefeito paulista Gilberto Kassab. Por paradoxo que pareça, a vitória de Haddad guarda semelhanças nada desprezíveis com a de seu correligionário, Roque Montagner, em São Gabriel, e sobre isto que trata a presente análise. Ah, antes que me esqueça: sim, votei contra o PT em São Gabriel e também torci contra o candidato do PT em São Paulo. Se você é ingênuo o suficiente para achar que isso distorce minha objetividade sobre os fatos, pode parar de ler aqui mesmo.
Lá, como aqui, os candidatos que o PT apresentou à prefeitura não tinham jamais disputado uma eleição. Montagner bem que tentou em 2008, numa natimorta candidatura a vice-prefeito pelo PSDB. Haddad foi escolhido por Lula na base do dedaço, atropelando candidaturas naturais como Marta Suplicy.
Após a vitória de ambos, seguiu-se um entusiasmo triunfalista, tanto em São Paulo quanto em São Gabriel, falando em vitória “esmagadora”, “acachapante” e outras sandices, coisa que não se sustenta nem em São Paulo nem em São Gabriel. Lá, como aqui, “especialistas” resolveram ignorar que tanto Haddad quanto Roque acabaram eleitos pela minoria da população. Em São Gabriel, 8.953 eleitores não compareceram às urnas, numa abstenção de 19,3% - a maior da história. Isto, somado à votação de Rossano e Inocêncio, são 27.364 gabrielenses que não votaram no candidato do PT, soma muito superior aos seus 17.968 votos. Sim, ele é o prefeito eleito dentro das regras do jogo, mas a imensa fatia do eleitorado que decidiu não o escolher deveria fazer seu grupo político calçar as sandálias da humildade.
O “estilo” PT de fazer política também foi decisivo, tanto em São Paulo quanto em São Gabriel. Se lá, até livro foi escrito para denegrir José Serra, aqui uma verdadeira fábrica de dossiês foi posta em movimento, com uma inacreditável CPI da Água criada com base numa investigação em São Luiz Gonzaga, totalmente fora dos fatos locais, e que até agora, entre informações desconexas e falaciosas, cumpriu apenas um papel: sangrar o governo em praça pública.
Mas o principal mote de campanha dos candidatos vencedores, tanto em São Paulo como em São Gabriel, foi realmente a idéia da renovação. O marketing da mudança foi tão convincente que os paulistas nem se deram de conta que estavam trazendo de volta raposas felpudas como Paulo Maluf. Em São Gabriel, o discurso da renovação abrigou velhos conhecidos como o ex-prefeito Balbo Teixeira, impugnado pela Justiça, com um forte sentimento de revanchismo. Sem condições de superar Rossano pelos próprios méritos, restou ao ex-prefeito fazer campanha para um antigo desafeto, e esperar pela partilha dos nacos do poder – o hábito mais “velho” da política, que os pretensos renovadores não parecem interessados em mudar.
Em São Paulo e São Gabriel, a idéia do “novo” devolve á cena política alguns dos seus mais arcaicos atores. Qual será o preço disso? Um governo disposto a cumprir os compromissos que assumiu nas urnas, ou um novo período de desforras, linchamento moral de adversários e batalhas de dossiês? Isto, só mesmo Deus sabe. Como esquerdistas costumam não acreditar em Deus, talvez poucos no novo governo saibam responder a esta pergunta.
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Meus parabéns pelo comentário Pr. Claudio Moreira.
ResponderExcluirFalou tudo muito bem faço minha a suas palavras
ResponderExcluironde trabalha o reverendo
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