Marcel da COHAB
Colunista do blog
Sempre sou indagado sobre quais os sambas da minha preferência, seja do ano atual seja dos anos anteriores. 99% ou 99 vírgula alguma coisa dos sambas enredo são de altíssima qualidade. Mas como toda a regra, há a exceção. Existem obras que, sinceramente, não entendo como passaram pelo crivo dos concursos de escolas tradicionais do melhor samba do mundo: do Rio de Janeiro.
Começo pelo ano de 1997 (para não nos estendermos muito). O grande Império Serrano de Aluízio Machado, Arlindo Cruz e outros, nos seus 50 anos homenageou o artista Beto Carreiro. Não consigo acreditar que a tradicional escola do “pumbum...” fez uma obra tão fraca. Nem Jorginho do Império salvou. Ainda no mesmo disco, o Acadêmicos do Santa Cruz fez um enredo estranho sobre as “bandeiras” com um samba não menos estranho, cantado por Cláudio Tricolor. A Acadêmicos da Rocinha encerrava o disco das escolas de samba com um samba sobre a Disney, gravado por Alexandre da Imperatriz, uma infindável citação a personagens famosos da Disney World.
Em 1999, a faixa a ser esquecida é a da Tradição. É...a Tradição de João Nogueira, falou sobre os 400 anos de Jacarepaguá. Nem mesmo Wantuir salvou a faixa. Samba sem sal, sem tempero, reto e procurando desesperadamente pelo fim. A Tradição de “Festa da Raça” teve um “Jacarepaguá” na sua história. E olha que a mesma escola ainda prepararia outras pérolas para anos seguintes.
No ano de 2001, a minha decepção foi o Salgueiro e o mar de Xarayes. Um samba nada a ver com o Salgueiro. Reto, sem empolgação, nem o refrão “a lá Ita” (fórmula repetida exaustivamente pela Escola) foi utilizado.
Em 2003 a Porto da Pedra surge para rivalizar com a Tradição. Aliás, 2003 e 2004 falando sobre a internet e sobre os donos da rua, a escola de Niterói pediu para que pulássemos a sua faixa no disco. Em 2003, ainda, a Tradição com um samba ora em homenagem aos títulos mundiais da seleção brasileira de futebol, ora falando de Ronaldo Fenômeno, num samba arrastado, sem pé nem cabeça e preciosidades como “a bola é um brinquedo, ‘Dadado’ fez seu reinado”...Nossa!!!
Em 2006 a decepção fica por conta da Caprichosos de Pilares. A escola se recuperando da morte de dois de seus grandes intérpretes (o veterano Carlinhos de Pilares e o promissor Jackson Martins) falou sobre o chocolate, o samba azedou e a escola caiu. 2007 marca a era dos jingles da Grande Rio, enredos encomendados por empresas com trocadilhos e expressões utilizadas em campanhas publicitárias.
A boa safra de 2010 tem o ápice dos jingles da Grande Rio, falando de uma marca de cerveja que tem um camarote na Marquês de Sapucay. E o pior: a Escola foi vice.
No carnaval que se aproxima, o disco traz uma boa safra de sambas, entretanto, a Porto da Pedra resolveu vender seu enredo para uma fábrica de iogurtes, fazendo de um enredo fraco, um samba fraco que não foi salvo nem pelo brilhante Wander Pires. E olha que sou apaixonado em iogurte.
Claro que os comentários acima são baseados em uma opinião minha. Mas a moral da história é de que até mesmo o melhor carnaval do universo, produz obras fracas, mesmo que estas sejam apenas 0,0000001% da sua história. São as exceções, quase raras, de uma regra: o samba carioca é inigualável. Por essas e outras que eu prefiro falar de Kizomba, Pumbum, Ratos e Urubus, Liberdade Liberdade...
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