E falando em um bom papo, promovemos a estreia de um parceiro nosso nas páginas do Caderno7. João Pedro Lemos, mais conhecido como MC John, pessoa bem quista na nossa comunidade, faz sua estreia como colunista do blog. Todas as sextas-feiras, ele estará no blog com sua coluna "Papo Reto", que trará assuntos variados da comunidade local. Nesta primeira edição, ele faz uma homenagem ao seu avô, João Machado, traçando um paralelo da amizade tida com o Coronel Décio Assis Brasil - mostrando também o valor e a importância da amizade - e das lembranças trazidas pela música, principalmente a campeira. Com vocês, João Pedro Lemos e seu "Papo Reto no Caderno7".
João Pedro Lemos
Colunista do blog
Coronel Décio Assis Brasil e João Machado
As Comemorações Farroupilhas sempre me fazem lembrar da velha Estância da Acácia e lembrando a Acácia no Azevedo Sodré sou obrigado a lembrar o lendário Cel. Décio de Assis Brasil, o qual meu avô João Machado foi capataz por 50 anos, primeiro posteiro, depois capataz. Eu nasci no Azevedo Sodré, graças a essa relação patrão empregado. Sempre que pronunciam essas palavras, especialmente patrão muitas pessoas ficam meio apreensivas, mas com certeza não ficariam se conhecessem Décio de Assis Brasil. Ele e meu avô trabalhavam numa cumplicidade como se fossem irmãos, então para mim, a palavra patrão sempre soou bem. O Décio era homem de poucas palavras, silencioso justo e amigo, tanto na Acácia no Azevedo Sodré quanto na Estância São Manuel nas Três Divisas tinha nos seus funcionários amigos e homens leais. Lealdade aprendi com meu avô, pois nasci e cresci acompanhando o trabalho dele e do Cel. Décio como era conhecido. Homem bom, lembra-me dele falando ao meu avô, “Machado, separa uma vaca para fazer um charque e um churrasco” próximo ao natal lembro-me dele falando e lembro como se estivesse vislumbrando os dois, “Machado, manda o Ventura (meu tio in memorian) pegar dois capões para o final de ano”. E lá acompanhava meu tio pelo meio do campo do Sodré às Três Divisas para buscar os capões e era tudo fantástico, ia descobrindo o que havia de tão belo por trás das coxilhas e paisagens que ao longe pareciam mágicas.
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Meus avós, João e Cândida, na Estância da Acácia. A amizade com o Coronel Assis Brasil era a consolidação da confiança e da bem-querença entre os amigos |
Fachada da velha Estância, no Azevedo Sodré |
Meu avô cuidava da Estância e do rebanho de Devon como se fosse dele, só Devon puro, aliás, até pouco tempo tinha na minha ideia que gado de verdade era Devon, pois cresci tirando e tomando leite, comendo derivados e carne sempre desta raça. Só mais tarde, vim entender a importância de outras raças. Lembro-me também que jamais outra cor de gado podia se juntar com o rebanho, os dois tinham verdadeira ojeriza, porque o vermelho do Devon era como uma religião da pureza.
Lago da Acácia, parte desta história |
Esses dois homens para mim sempre foram o sinônimo de confiança e lealdade, morreram velinhos e exemplo de verdadeiros gaúchos, homens que viviam na lida campeira seu cotidiano e sua essência. É por isso que quando ouço “Cansando o Cavalo”, minha alma voa na lembrança, avistando as coxilhas do Sodré, principalmente arvoredos distantes que sempre ia ver o que lá havia, “Com a alma presa na Espora”, lembro-me de meu tio domando próximo ao velho galpão da Acácia e minha avó na janela rezando. “Funeral de Coxilha”, cavalos velhos que depois de servirem a Estância morriam, sempre na coxilha. “Veterano”, meu avô, bem velhinho vivendo o que exatamente retrata a música e pior, com 83 anos, ainda o vi laçar um terneiro para curar, numa laçada de dar inveja a qualquer laçador de rodeio. “Na Boca da Noite Grande”, revivo o velho galpão que em dia de rodeios e vacina levantávamos cedo para chimarrear na volta do fogo de chão, depois se tomava uma canha e a cachorrada galga corria lebres, enquanto nos dirigíamos a várzea tirar o gado do mato.
Agora quando ouço “Quando o Verso vem para Casa”, choro porque vejo ali a estampa de dois homens que conheci, com certeza verdadeiro orgulho do Rio Grande do Sul, não só pela vivência na produção primária, mas pelo exemplo de bondade, hospitalidade, seriedade e compromisso com o bem, Homens de verdade, de palavra que em apenas um olhar se faziam entender. Qualquer história do Rio Grande do Sul, sem dúvidas não é maior que a história desses dois homens, Décio de Assis Brasil e João Cândido Machado e a lendária Estância da Acácia. Um dia ainda vou ouvir uma música em homenagem aos dois, porque os poetas são iluminados, muitos sem viver o fato conseguem descrevê-lo tão perfeito como se lá estivessem. Viva o Rio Grande do Sul.
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João Inácio: homenagem ao saudoso avô |
Meu filho João Inácio presta uma homenagem ao bisavô João Machado, pilchado. Inácio tem a mesma cor dos olhos do bisa, são azuis. Nossa boa lembrança familiar a esses homens.
E-mail: blogcadernosete@gmail.com
Parabéns, João Pedro.
ResponderExcluirTua coluna é um relato emocionante de uma vivência muito própria. Um texto que merece ser lido várias e várias vezes.
Textos bons são aqueles que nos tocam de alguma forma. O teu é dessa estirpe.
Parabéns,
Amigo João Pedro, simplesmente maravilhoso tudo o que escreveste, emocionaste a todos nós. Tiraste o melhor proveito da convivência com estes homens de honra, caráter e dignidade, pois tudo o que havia neles também reside em ti. Me lembro nítidamente o orgulho que teu avô tinha de ti, não era em vão, não o decepcionaste, foste muito além....Nossos avós eram verdadeiros amigos, não havia patrão e empregado, isto se fundia e muitas vezes um assumia a posição do outro, homens que tinham ânsia de aprender e muito aprenderam um com o outro, uma sintonia perfeita de dois homens de honra. Saibas que teu avô bem como toda tua família sempre foram a nossa também e também eles povoam nossas lembranças mais queridas. Obrigada João Pedro, tu tens a minha amizade para sempre, apesar de me teres feito chorar!
ResponderExcluirEm tempo! Teu filho é muito parecido com teu avô que tinha os olhos mais azuis que eu já vi! beijo grande!
ResponderExcluirCecília
Que coisa mais linda, quanto mais leio, mais me emociono!
ResponderExcluirJoão Pedro lindíssimo teu texto, emocionante, estes eram realmente amigos, agora eles devem estar orgulhosos lá em cima apreciando tuas palavras. O carinho que tinhas e tens pelo pai é o maior presente que alguém pode me dar, por isto serei eternamente grata! Parabéns tu descreveste os dois tão bem que quase os posso enxergar, teu avõ tinha razão, tu tens um grande talento. Um abraço
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