Estudo destaca biodiversidade preservada no período Permiano em rochas de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul
Pesquisadores brasileiros descobriram um importante sítio fossilífero no município de Dom Pedrito, na região do Pampa, no Rio Grande do Sul. O achado, publicado na revista científica Journal of South American Earth Sciences, revela um antigo ecossistema preservado em rochas com cerca de 260 milhões de anos, do período Permiano, época marcada pela maior extinção em massa da história da Terra.
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Reconstrução digital paleoambiental da vegetação que habitava o Rio Grande do Sul há 264 milhões de anos, na região onde hoje é Dom Pedrito |
Paleontólogas gaúchas, Joseane Ferraz e Joseline Manfroi realizando coleta de fósseis no sítio fossilífero que foi desenvolvido o estudo |
Durante quatro expedições realizadas na localidade conhecida como Cerro Chato, foram coletados aproximadamente 200 fósseis de plantas, incluindo folhas, raízes, troncos e ramos de samambaias primitivas, cavalinhas, licófitas e coníferas. O estudo indica que esses registros compõem um “oásis” de biodiversidade que existiu em meio a um cenário de aridização global, oferecendo evidências de que nem todas as regiões do planeta foram igualmente afetadas pelas mudanças climáticas extremas da época.
O sítio já havia sido descrito em 1951, mas passou a ser investigado com mais profundidade recentemente, no contexto de pesquisas de doutorado da paleontóloga Joseane Salau Ferraz, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). A coleção de fósseis obtida na região, composta por espécimes vegetais, vertebrados e invertebrados, está sob guarda da própria instituição.
Além da UNIPAMPA, participam do estudo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Centro de Investigação em Paleontologia e História Natural do Atacama (CIAHN), no Chile. A pesquisa conta com financiamento da FAPERGS, CAPES e CNPq.
O material encontrado possui alto grau de preservação, permitindo observar estruturas orgânicas conectadas, como raízes ligadas a caules e folhas ainda presas aos ramos, o que oferece subsídios inéditos para a reconstrução paleoambiental e ecológica da região durante o Permiano. De acordo com os pesquisadores, não há registros semelhantes com essa idade na Bacia do Paraná, que abrange parte da América do Sul.
O estudo intitulado “An Oasis in Western Gondwana: A Diverse Guadalupian Paleoflora from South America” sugere que a área de Dom Pedrito pode ter funcionado como um refúgio ecológico durante o período de crise climática global, abrigando uma concentração de espécies até então desconhecida para a América do Sul.
Os autores apontam que as descobertas ampliam o conhecimento sobre a evolução da biodiversidade e as respostas dos ecossistemas às mudanças ambientais extremas, além de reforçarem a importância da preservação e valorização do patrimônio paleontológico da região Sul do Brasil. Novas pesquisas no local devem ser conduzidas nos próximos anos, com potencial para revelar mais informações sobre o passado da Terra.
O estudo completo está disponível na revista científica Journal of South American Earth Sciences e pode ser acessado pelo link: https://doi.org/10.1016/j.jsames.2025.105508.
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 07/04/2025 19h20
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