Na terça-feira, 28 de maio, o vereador e presidente da Câmara de Vereadores de São Gabriel, Moisés Marques (PDT), expressou sua profunda preocupação com o aumento de declarações preconceituosas contra religiões de matriz africana no Rio Grande do Sul. Em um discurso incisivo, ele destacou a necessidade urgente de combater essa discriminação. A manifestação foi necessária tanto pelo fato de Moisés ser o único religioso de matriz africana que é vereador no Estado além das recentes manifestações em redes sociais atribuindo aos simpatizantes das religiões, "culpa" pela tragédia climática no RS.
"Está havendo intolerância religiosa", iniciou Moisés. "Não queria acreditar que seriam casos isolados, mas me incomoda muito ver crescer declarações e postagens preconceituosas contra o povo de matriz africana no estado do Rio Grande do Sul", afirmou. O vereador apontou que, em meio às recentes tragédias naturais, algumas pessoas têm usado as redes sociais para culpar as religiões de matriz africana pelos desastres. "Pessoas usam redes sociais para dizer que as tragédias que assolam o estado, como as inundações, são culpa do povo afro-religioso", afirmou Moisés.
Enfatizando a importância de não se calar diante de tais atos de intolerância, Moisés afirmou: "Vivenciamos momentos de tristeza, perda e incertezas, onde todas as lideranças políticas e religiosas se unem para ajudar uns aos outros, independentemente de credo, ideologia política ou religiosa."
Moisés criticou duramente aqueles que aproveitam situações de calamidade para atacar a fé alheia. "Usar de uma fatalidade climática para denegrir a fé alheia é de uma covardia imensurável e um crime tipificado na lei. Precisamos nos unir; estas coisas não podem ficar impunes. Quando alguém publicamente demonstra seu racismo religioso, certamente é porque tem a certeza da impunidade."
O presidente da Câmara mencionou episódios recentes de discursos intolerantes, citando pseudocristãos como Paulo Santos, que atribuiu as enchentes à feitiçaria e satanismo do povo do Rio Grande do Sul, e a empresária e influenciadora Micheli Dias, que sugeriu que as tragédias eram uma manifestação da ira divina contra a presença de terreiros de candomblé no estado. Moisés também criticou o prefeito Valdemar Rocha, de Barra do Sul (SC), por suas declarações insinuando que a falta de igrejas no Rio Grande do Sul seria a causa das enchentes.
"Fico pensando: esses que se intitulam 'povo de Deus' não têm amor ao próximo? Nada os comove, nada os sensibiliza? Em plena situação de vulnerabilidade do povo gaúcho, eles promovem palavras de racismo religioso e discriminação, em vez de proferir palavras de amor e solidariedade. Sou mais povo de terreiro, sou afro-religioso: amor, verdade e justiça", declarou Moisés.
Reafirmando seu compromisso com a defesa dos direitos das religiões de matriz africana e a luta contra a intolerância religiosa, Moisés destacou: "Precisamos estar atentos a esta afro-teofobia enraizada nos indivíduos oportunistas que estão sempre à espera de um momento para atacar. Não podemos permitir que esses atos de covardia e desrespeito continuem impunes."
Além da esfera religiosa, os atos de intolerância também atingem o próprio povo gaúcho, com episódios de xenofobia e intolerância por parte de pessoas de fora do Estado. No entanto, o povo gaúcho tem mostrado uma forte união, com pessoas de todas as ideologias políticas, religiosas e sociais se ajudando mutuamente. Em São Gabriel, por exemplo, umbandistas, católicos e evangélicos estão caminhando juntos, ingressando em seus templos religiosos para ajudar os que mais necessitam. Esta união é uma realidade em todo o Estado do Rio Grande do Sul.
"Que possamos tirar uma mensagem e um exemplo positivo de toda essa tragédia, seguindo o exemplo do povo gaúcho: união independente de ideologia política, opinião, religião, cor, gênero, classe social. Sejamos humanos, com respeito e empatia pelo próximo", finalizou Moisés Marques.
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 30/05/2024 14h32
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