Momento da descoberta do Kwatisuchus, em uma fazenda de Rosário do Sul, feita por pesquisadores do laboratório de Paleobiologia da Unipampa São Gabriel (foto Alice Dias/Especial C7) |
Em uma descoberta histórica realizada no interior de Rosário do Sul, Rio Grande do Sul, pesquisadores do Laboratório de Paleobiologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa de São Gabriel) encontraram o crânio de um anfíbio gigante, o Kwatisuchus rosai, em rochas datadas do período Triássico, com cerca de 250 milhões de anos. Este achado não só evidencia a presença de anfíbios gigantes antes dos dinossauros, mas também estabelece uma ligação fascinante entre as faunas pré-históricas do Brasil e da Rússia.
O anfíbio gigante Kwatisuchus rosai em seu hábitat: uma terra inóspita, devastada pela maior extinção em massa da história do planeta (arte feita por Márcio L. Castro) |
Crânio do anfíbio gigante Kwatisuchus rosai (foto Felipe Pinheiro/Especial C7) |
O paleontólogo Felipe Pinheiro (Unipampa), coordenador da pesquisa, destaca a singularidade do achado: “O Kwatisuchus era um sobrevivente. Viveu em um ambiente devastado pela maior extinção em massa da história do planeta”. Ele também ressalta a relevância do anfíbio para a compreensão dos impactos ambientais e das respostas dos ecossistemas a eventos de extinção.
Rosário do Sul ganha destaque como local da descoberta, reforçando sua importância no mapa paleontológico. O Kwatisuchus rosai, parte do grupo dos temnospôndilos e com tamanho estimado de 1,5 metros, homenageia Átila Stock Da-Rosa, paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria, reconhecido por seu trabalho pioneiro na área.
Sobre o momento da descoberta, o Dr. Voltaire D. Paes Neto, da parceria Unipampa-Harvard, relata: “Certamente o achado mais emocionante que já participei. Estávamos encerrando as buscas no sítio quando notei um pedaço de osso mais alongado. E já, ali mesmo, sabíamos que se tratava de algo fantástico e completamente novo”.
Arielli Fabrício Machado, ecóloga e paleontóloga da Unipampa, explica a significância do achado: “É incrível encontrar esse e outros animais que provavelmente conseguiram ultrapassar barreiras geográficas no supercontinente Pangeia. Isso instiga novos estudos para entender como essas conexões se deram”.
Publicado na revista The Anatomical Record, o estudo foi apoiado pelo financiamento de pesquisa Lemann-Brasil e contou com a participação de cientistas da Unipampa, Princeton e Harvard. Stephanie Pierce, da Universidade de Harvard, enfatiza a importância do financiamento: "Os fundos da Lemann permitiram à nossa equipe a liberdade para procurar novos e importantes fósseis no Sul do Brasil, aqueles que viveram no rescaldo da maior extinção em massa de todos os tempos, a extinção Permo-Triássica".
Este achado ressalta a parceria vital entre fazendeiros e paleontólogos, como destacado por Pinheiro: “O entusiasmo e interesse dos proprietários de terras é fundamental. As descobertas paleontológicas não resultam em qualquer dano à propriedade”. A pesquisa destaca não apenas a importância científica, mas também a colaboração e o apoio comunitário essenciais para tais descobertas. É mais um achado paleontológico concretizado pela equipe da Unipampa São Gabriel, comprovando a existência de vida animal nos primórdios da Terra.
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 20/01/2024 16h21
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