Alexandre Cruz
Colunista do blog
Que Maquiavel nos ensina sobre Florença dos Medicis?
Nenhuma república, por mais poderosa que seja, pode sobreviver se as divisões internas prevalecem sobre o interesse comum. Isso viu com claridade Maquiavel, que conta nas suas histórias florentinas as terríveis consequências que a cidade tiveram nas lutas entre guelfos e gibelinos; entre plebeus e aristocratas
Qualquer pequeno incidente poderia originar enfrentamentos violentos que provocavam o terror naquela Florença que transitava entre Medieval ao Renascimento. Maquiavel relata como o ódio entre os Cerchi e os Donati sangrou a vila em tempos de Dante com requintes de luta de rua. O progenitor de um deles mandou pedir perdão ao seu rival, que havia se ferido levemente e o pai deste cortou a mão como vingança. Logo, ele disse: "regressa para o teu amo e diga que as feridas se curam com fatos e não com palavras." Este incidente esteve a ponto de desencadear-se uma guerra civil em Florença e obrigou o Papa a realizar uma mediação sem êxito.
Florença foi uma cidade-Estado onde reinava a cultura do ódio em que o governo passava alternativamente do povo a nobreza, o que supõe trocar uma tirania por outra pior. Quando se impõe os aristocratas, a liberdade era substituída pela escravidão. Quando governavam os partidários do povo, se impunha a libertinagem sobre as normas. O assassinato era a forma habitual de dirimir as diferenças políticas.
Mas, que Maquiavel observou com a sua brilhante agudeza intelectual, os permanentes conflitos e a corrupção não destruíram a república de Florença, que soube fazer as divisões internas um motor de progresso e prosperidade. Antecipando três séculos a Marx, Maquiavel foi o primeiro em postular os movimentos dialéticos na História e se deu conta que a oposição dos contrários poderia gerar uma síntese superadora. Apesar da sua tradição de inimizades, Florença chegou a ser durante os Medicis a mais poderosa cidade Estado de Itália.
Todo esse relato histórico, existe fortes semelhanças, salvando as distâncias históricas, entre o que contava Maquiavel e o que está sucedendo em nosso país. Somos uma Nação enfrentada durante anos, sem cultura do consenso, com um desmedido sentido de autocrítica e com uma tendência a dispersão que impossibilita a grandes acordos.
A crise polí9tica em que vivemos, o esgotamento de um modelo institucional político, deveria obrigar a governar com acordos, mas que tem se notado é a tendência de dividir os bandos ideológicos. Poderia ser uma oportunidade para deixar o sectarismo e chegar a um entendimento nacional que nos una em frente aos grandes desafios que nos apresenta.
Sou consciente das dificuldades do empenho e do peso da história, mas este país se pode ir a pique se não supera esse espírito golpista que sobrevive em uma minoria e que impede consensos que hoje são necessários para que o Brasil possa sobreviver em um mundo globalizado.
Como sucedeu em Florença há seis séculos, podemos resolver as diferenças e chegar a um grande pacto entre guelfos e gibelinos. Governo e oposição, para realizar as grandes reformas que tanto necessita Brasil e adotar iniciativas que regeneram as instituições. Nenhuma solução é perfeita, mas atualmente necessitamos empregar a palavra consenso para refundar a democracia que tanto lutaram na juventude.
Data: 08/01/2016 17h03
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