Alexandre Cruz
Colunista do blog
Que a operação Lava Jato nos ensina
Nunca é desejável que os caminhos da justiça e da política se entrecruzem em razão que gera indício de promiscuidade entre os poderes ou entre a política e o dinheiro. Frequentemente, ambas às vezes. Brasil vive uma confusão num final de época e um desconcerto próprio da situação que somam novas irrupções da justiça na cena política.
A conta gotas se conhece as revelações sobre a operação Lava Jato que confirma que se trata de uma rede de corrupção muito bem estruturada em torno das finanças de diversos partidos, que cai por terra o argumento vitima de alguns dirigentes que não era “trama dos partidos que estão no governo e sim trama contra os partidos que fazem a coalizão com o governo.” De verdade, estamos diante de rede de clientelismo, que desmente o tópico que a corrupção no Brasil é atribuível a solitários desalmados, com a cota de estatística de delinquentes, que atuam em estrito benefício próprio. Não respondem a este perfil casos que ocupam as manchetes dos jornais. São, até onde se conhece, são tramas organizadas em torno do financiamento dos partidos.
Vivemos a explosão retardada de um dos princípios dos pontos sombrios da democracia brasileira: o dinheiro dos partidos. Não se quis afrontar no início, se acreditava na impunidade por cumplicidade (se todos fazem igual, não vamos a denunciar ou não seremos denunciados) e acabou explodindo, transformando em uma das fontes de descrédito do regime democrático porque tem sido a base de partida para construção de sólidos sistemas clientelistas que convertem o Estado em uma forma pós moderna do eterno caciquismo.
Os dirigentes políticos contribuem a irritação cidadã ao negar em assumir as responsabilidades que por ação ou omissão lhe correspondem. Tem aparecido a figura do tesoureiro como cabeça de turco. E um tesoureiro não é um cargo qualquer. Costuma ser uma pessoa de máxima confiança e lealdade do chefe. E um presidente de um partido é um irresponsável se desentende de uma questão tão sensível como o dinheiro.
O que fazer? Há quem pensa que seria a hora de fazer um reset. Deveriam os presidentes dos partidos envolvidos no Lava Jato assumirem suas responsabilidades: expliquem algo que sabem. Deixem de delegar a culpa aos tesoureiros, personagem que vai ao caminho de se transformar num símbolo de um regime. É hora de serem adultos, pois o passado pesa!!