Cláudio Moreira
Pastor e jornalista
Existem muitas definições para totalitarismo, mas creio que todos concordam que uma definição adequada de um regime totalitário seja aquele em que se tenha um tal controle sobre a circulação de idéias e pensamentos, que somente um determinado conjunto de valores seria considerado objeto legítimo de debate, excluindo todos os demais pontos de vista. Este era o mundo dos sonhos do “Grande Irmão” concebido por George Orwell em sua obra 1984, e antes dele,sonhado por Antonio Gramsci em sua noção de”guerra cultural” aos valores da civilização ocidental.
A passos lentos, sem pressa, mas de forma persistente, a sociedade caminha cada vez mais para um falso consenso sobre idéias e valores sociais, concebendo um mundo que, na prática, será cada vez mais totalitário. Uma das formas mais evidentes deste conflito é a forma como se fala, hoje em dia, dos chamados “haters”. Em bom português, trata-se dos supostos propagadores de “discurso de ódio” nas redes sociais, considerados um perigo e uma ameaça a ser vencida. Tirando proveito de casos extremos de evidente violência, autoridades e setores da imprensa falam cada vez mais em cerceamento da liberdade das redes virtuais, para calar o suposto “discurso de ódio” de alguns setores da população. A pergunta é: quem define o que é discurso de ódio?
Suponha que você, prezado leitor, embora não tenha nada contra a opção ou preferência sexual de quem quer que seja, não seja exatamente favorável ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e goste menos ainda de certas medidas oficiais como a recente resolução do Governo Federal, que autoriza meninos que se consideram meninas a usar o banheiro das meninas em escolas públicas, e vice-versa. Se você expressar, ainda que de modo oblíquo, qualquer contrariedade a estas pretensões, prepare-se para ser considerado um “hater” – e, portanto, um perigo, alguém que deveria estar algemado em vez de andar por aí, escrevendo suas opiniões em redes sociais. Não faz muito tempo, um candidato à presidência de um partido nanico, foi condenado a pagar multa por se dizer contrário á união civil de homossexuais – apesar de ter falado exclusivamente a partir de um ponto de vista pessoal. Detalhe: tudo isso vem sendo feito pelos caminhos obscuros da jurisprudência, sem nem mesmo a necessidade de uma legislação específica. Em nome do “bem”, passa-se por cima da lei e do Congresso, contando com os arreganhos de um Judiciário que cada vez mais legisla e atropela suas funções, esculhambando o que restava da nossa solidez institucional.
Quando o sistema legal opera para tornar proscritas ou ilegais certas opiniões, o que se tem não é um verdadeiro regime de liberdades civis. Como dizia a esquerdista Rosa Luxemburgo, “Liberdade é e será sempre a liberdade de pensar diferente”. Plenamente coerente com isso é a expressão do economista afro-estadunidense Walter Willians: “É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas. Mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.
Seja agradável ou repulsivo, seja você mesmo. E exerça sempre seu direito à livre expressão, sem se deixar pautar pelas patrulhas que querem ditar regras sobre o que você deveria pensar.
Excelente reflexão, parabéns. Infelizmente vivemos no Brasil atual o famigerado e repulsivo "politicamente correto"... ou seja, só fale e pense aquilo que agrada ao povão e às "minorias"!!!
ResponderExcluirAgradeço a leitura e a opinião, Ivonir.
ResponderExcluirSigamos firmes na luta pela absoluta e irrestrita liberdade de expressão.
Abraços.
Parabéns pelo artigo, Revdo. Cláudio... essa é uma questão que nos preocupa muito na realidade em que vivemos, pois se prega liberdade, mas ao se ouvir algo contrário se corre risco de condenações... grande abraço
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