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02 dezembro 2014

Opinião do leitor: A agropolítica das duas caras

Tarso Francisco Pires Teixeira
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul

O camaleão é animal conhecido pela capacidade de mudar de cor conforme o ambiente. Em qualquer lugar do mundo, quando alguém é chamado de “camaleão da política”, tem razões para se considerar ofendido, pois isso significa que é uma pessoa com princípios de ocasião, que modifica seus gostos, posturas e valores ao sabor do vento. Em qualquer país do mundo, uma ofensa das graves.


Menos no Brasil. Aqui, quem é considerado “camaleão da política” ganha ares de sábio, pragmático, mentalidade adaptável aos desafios da complexidade do país. É por isso que a crônica política praticamente não questiona as recentes escolhas da recém-reeleita presidente Dilma Rousseff para seu novo ministério. Dispenso-me de discorrer sobre a escolha de Joaquim Levy para a Fazenda, um ortodoxo dos mercados, após uma campanha em que massacrou Aécio Neves e Marina Silva por suas ligações com Armínio Fraga e Neca Setúbal, respectivamente. Nem mesmo esta escolha consegue ser mais emblemática do que a indicação, agora confirmada, da senadora Kátia Abreu para o ministério da Agricultura.

Kátia Abreu foi, durante os oito anos de seu primeiro mandato, uma dura crítica do governo Lula e de seus equívocos. Odiada pelo MST e pelo Greenpeace, alvo de abaixo-assinados que a qualificavam, em todo o mundo, como “Miss Desmatamento”, transformou-se, em um curto espaço de tempo, em amiga e confidente da criatura de Lula. Em nome desta “amizade”, turbinada pela necessidade de sobrevivência política, a ex-senadora do então PFL pulou para o PSD, e deste para o PMDB. 

Fica difícil saber, neste feliz encontro de duas almas gêmeas, quem está exercendo mais a capacidade do “duplipensar”. Afinal, trata-se de duas Dilmas e duas Kátias diferentes. Quem, de fato, se relaciona com quem? A Dilma esquerdista, que era candidata? Ou a Dilma conservadora, que manda sinais de rigor aos mercados? A Kátia liberal, defensora da livre iniciativa e opositora do MST? Ou a Kátia dilmista, que engoliu o Petrolão e a questão indígena para se tornar ministra de Estado? Enfim, a confusão é grande.

É difícil saber, nesta relação paradoxal, quem serve melhor aos interesses de quem. Mas é fácil, muito fácil saber quem está perdendo. E não é nenhuma das duas, amigo leitor. Ou das quatro, sabe-se lá. 

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