João Nunes Júnior
Advogado
As sete da manhã, um senhor apressa o passo, o semblante preocupado resmunga maledicências pela greve nos ônibus. Uma jovem ajeita a blusa e, mergulhada no aparelho celular, deseja morrer pelo horário que foi obrigada a deixar a cama. Possivelmente não recordam. As outras pessoas caminham distantes, ou seria eu uma distância intransponível atrás destes pensamentos que me prendem ao chão? A única homenagem justa talvez fosse que todos os corações do mundo parassem de bater por uns cinco minutos e assim experimentássemos a morte e a angústia de rasgarem a vida com a gente dentro. E silenciá-la.
O nosso egoísmo animalesco de humanos, entretanto, não nos permitirá. E se prometêssemos - somente hoje, somente neste dia - passar vinte e quatro horas sem ao menos maldizer a vida - e os nossos passageiros problemas - para celebrar essa fortuna que temos e que muitos perdem todos os dias? Há um ano, perderam-se vidas com cheiro de infância e com muito futuro nos bolsos. Vidas que mal aprenderam a voar e já foram jogadas no céu. O único desejo é que não tenham sido em vão: não por uma ânsia justiceira. A vingança não é cura: é um jeito de permanecer sempre doente.
Que sejam - as vidas perdidas - matéria prima para que nasça o bem e uma infinita graça de viver. Que vidas que evaporam nos ensinem a viver. Só o oposto da morte pode alisar os cabelos de para quem respirar ainda fere. O tempo não cura tudo. Nos bons corações, no entanto, ele é capaz de plantar um sorriso que não vencerá a saudade, mas que será a esperança do mundo.