Kelly Pinheiro e Caroline Zanini
Colunistas do blog
Do desejo ao desgaste: a trajetória das tendências
A moda invade as ruas e causa repulsa pelo excesso de exposição
A tendência pode nascer numa linda passarela da Chanel, em Paris. Ela é pequena e tímida e aparece disfarçada entre o cenário e as manequins. Alguns olhares mais atentos reconhecem a futura queridinha do closet. Então ela cresce e vai passear pelo mundo. Vai a Londres, Milão e Nova York estampando páginas de revistas. Depois chega às prateleiras de boutiques e, em seguida, vai à China se multiplicar, multiplicar, multiplicar, multiplicar.
Quando todos reconhecem aquela pequena ideia como a grande sensação; e quando ela é adotada por todos em todos os lugares – ela morre. O fim não é súbito, nem tão pouco inesperado. Quanto maior o apogeu da tendência, mais certo é seu declínio. E a queda se dá basicamente por duas razões: olhos cansados de repetições sobre o mesmo tema ou a necessidade de distinção e ânsia por não parecer como o outro.
E não é preciso entender de moda, de gente ou de Chanel. Basta ter olhos e ouvidos para diagnosticar quando uma ex-tendência virou moda e ganhou todas as novelas, páginas de revista e barraquinhas do camelô. É o excesso por excesso que sustenta a ideia, e que a mata de cansaço como uma dose letal.
A última sepultada é a caveira. Esta ex-tendência resiste vividamente o seu fim. Mas é inevitável a repulsa social por este elemento. Numa constante da vida, levando para uma dimensão existencial, todas as pessoas irão aderir à caveira e parecer-se como um quando o seu próprio fim não chega. Até lá, esta pobre magrela de dentes expostos invade a roupa, o corpo, as unhas, os brincos, os chinelos, os celulares. Caveira de manhã, tarde e noite. Uma tendência que foi revirada, usada e abusada em todas as esferas sociais.
Outra tendência também está condenada antes mesmo de ganhar a popularidade estratosférica da caveira. A nova moda, e ex-tendência, são as listras em preto e branco. Quando uma calça listrada aparece em um blog dá logo uma vontade de adquirir este desejo de moda, mas daí ela aparece em 1250 blogs, em 100 revistas e em 1000 perfis do facebook. Daí as listras já não parecem tão diferentes e divertidas. O olho fica estrábico de ver tanta listra junta e a tendência dá um grito e morre. Calma. Esta ainda está meio vivia para quem quiser usar, mas é questão de tempo para o excesso cansar os olhos e a mente.
A tendência nasce findada a morrer. E os estilistas vibram. Quanto mais gente compra, mais se vende, mais se enjoa e logo se busca desesperadamente por outro ícone para chamar de tendência – que na verdade já é moda, a partir do momento que está nas ruas sendo usadas por todos e de diversos modos. A tendência é uma receita de bolo:
1. Observar todos os desfiles de moda
2. Comprar todas as revistas
3. Observar as lojas
4. Observar as lojas de departamento
5. Verificar o camelô
6. Comprar a peça na liquidação quando ninguém agüenta mais
7. Guardar por 3 anos até todos esquecerem que ela existiu
8. Tirar do armário
9. Lavar
10. E usar como se fosse uma tendência novinha
A Up-D ama tendência e moda, mas às vezes é preciso gritar para que uma roupa/idéia/conceito para de se repetir e torturar o imaginário e os olhos. Por isto, nesta semana o Instagram da Up-D dá o último grito na moda e expulsa aquela tendência que ninguém agüenta mais. Dá uma olhada lá: @up__news.
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