Kelly Pinheiro e Caroline Zanini - Up-D
Colunistas do blog
Em qual fonte você bebe moda?
As falsas escolhas próprias e o domínio publicitário
Eu preciso de um sapato slipper com spikes, sabe? Aquele sapatinho parecido com pantufa de rei e cheio de spikes pontiagudos de punks. Eu preciso acreditar que as minhas vontades imediatas de consumidor são necessidades intrínsecas a minha personalidade única. Preciso acreditar que sou único. Eu preciso ser único dentro de um grupo. Eu preciso de um slipper de spikes para ingressar no meio dos meus e existir como igual, e assim exercer a minha individualidade.
Bobagem.
O que cada um precisa é de muita reflexão e autoconhecimento para encontrar as perguntas certas que os levem a se questionar e- quem sabe - a mudar. É necessária a consciência dos limites. A maior necessidade, na realidade, é o domínio de si, para que se consiga viver conforme se deseja.
Enquanto o domínio cede aos ímpetos dos desejos mundanos, o “eu” se torna menos ativo e a moda surge como monstro dominador, como mal publicitário, que cria as necessidades, que projeta vidas inatingíveis, que vende sonhos e tudo mais. Ou ainda, seguindo o discurso clássico dos vendedores de tendências: a moda vende a necessidade que o consumidor ainda não sabe que precisa, ela prevê. A moda é o médium moderno usando um turbante Chanel.
Búzios da Moda: o que você vai usar neste inverno.
Este vidente do futuro prevê e dissemina o segredo dos búzios entre várias marcas. O resultado são revistas, blogs, artigos e famosas exibindo o último hit da estação. A tendência, na verdade, só existe quando ignorada pela massa; quando todos aderem a cor, modelo do momento, uma tendência morre e vira moda. Quando a necessidade é revelada ao grande público, era rapidamente é absorvida e se torna prazer.
Não existe tendência cara, existem reproduções luxuosas dos discursos empregados. A fonte é a mesma, as projeções sobre o tema é que variam elevando preços, egos e sonhos. Ninguém escapa deste processo: a tendência nasce, cresce e vira moda, vira reprodução e o homem vira consumidor. Não adianta fugir, o tecido, a linha, a roupa – são todos derivados da mesma garrafa.
Sabe o que a gente precisa? De menos tendências e mais personalidade. Olhar para o passo ajuda a não tropeçar no futuro.