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14 fevereiro 2013

Opinião do leitor: São Gabriel, Sepé Tiarajú e a Construção de Mitos

Cláudio Moreira
Pastor evangélico, teólogo e escritor

Na Rússia de Josef Stálin, uma das principais tarefas da KGB, polícia secreta do regime, era reconstruir os registros da Revolução Bolchevista de 1917. Os revolucionários que tivessem mais proximidade com o antigo líder Vladmir Lênin do que o próprio Stálin, eram apagados das fotografias históricas, e logo em seguida, “apagados” da vida real. Reconstruir a verdade para caber na “versão oficial” sempre foi uma tentação recorrente para governos de todos os matizes, e em pleno século 21, este impulso ronda os primeiros atos do novo governo de São Gabriel, cidade da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul que, a despeito de sua forte cultura pampeana e fronteiriça, caminha a passos largos para se tornar um estranho enclave guarani em pleno coração da Campanha, através da devoção oficial do novo governo municipal à figura do lendário herói das Guerras Guaraniticas, Sepé Tiarajú.



A primeira grande medida do novo governo, liderado pelo Partido dos Trabalhadores, foi anunciar a desapropriação de uma área de 1,7 hectares no centro urbano da cidade, onde se localiza o sítio histórico da Sanga da Bica, local onde Sepé teria tombado em combate a 7 de fevereiro de 1756. Interessante notar que a decisão foi anunciada ao mesmo tempo em que era decretada situação de emergência por conta de uma alegada herança de déficit, o que deveria prevenir o novo governo diante de novos ônus com indenizações de vulto.

A esquerda gaúcha sempre teve um fascínio pelo mito Sepé, cuidadosamente difundido por ideólogos como Antônio Cechin e outros que o transformaram num proto-revolucionário socialista, defensor dos oprimidos guaranis contra o imperialismo ibérico. Todavia, o historiador gabrielense Tau Golin, em sua obra “Por Baixo do Poncho: Contribuição à Crítica da Cultura Gauchesca”, descreve Sepé como um alferes da Redução de São Miguel, funcionário subalterno de um projeto de dominação espanhola, nada a ver com a roupagem guerrilheira que costuma lhe ser atribuída. A recente lei federal 12.032/09, que inscreveu o nome de Sepé Tiarajú no Livro de Aço dos Heróis da Pátria, não deixa de ser uma ironia em si mesma, já que, se Sepé e seus companheiros tivessem vencido, a “Pátria” não seria exatamente como é hoje. Coerente com este pensamento, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul afirma que Sepé Tiarajú “não é uma expressão dos sentimentos (...) do povo gaúcho, formado ao signo da civilização portuguesa”.  (História Ilustrada do Rio Grande do Sul, 1998).

Há ainda outras questões que passam ao largo da pesada controvérsia histórica em torno do personagem. Sepé é cultuado como um mito sagrado para os remanescentes tupi-guaranis, um ser divinizado, alvo da devoção do culto indígena tupi-guarani. E a Constituição Federal, em seu artigo 19 inciso I, não permite que o Poder Público subvencione a construção de memoriais de uso religioso ou locais de culto, em obediência ao princípio da laicidade do Estado.

Além disso, agentes do novo governo municipal não fazem segredo sobre o fato de o projeto arquitetônico ser uma parceria com o escritório do falecido Oscar Niemayer e um arquiteto gabrielense, irmão do procurador jurídico do Município. Ainda que seja verdadeira a alegação de que o projeto não custará um centavo ao município, não deixa de despertar preocupação ética o fato de o irmão do dono do projeto ser justamente o agente público encarregado de uma desapropriação que vai beneficiar, e muito, o currículo profissional de seu parente.

Relevante destacar que, no ano passado, a família proprietária da área doou 980 metros quadrados ao Poder Público para o sítio histórico ali existente.  A desapropriação, portanto, só se justifica pelo viés ideológico, como deixa claro o irmão marista Antonio Cechin em seu recente artigo “Mais um Milagre de Sepé Tiarajú”: “O  terreno denominado Sanga da Bica, é de propriedade de uma das famílias de latifundiários mais antigas e tradicionais do Estado do Rio Grande do Sul”. A família que é alvo da ira do religioso, paradoxalmente, legou ao Rio Grande um de seus filhos mais progressistas, o embaixador Joaquim Francisco de Assis Brasil, homem de sólidas convicções democráticas e humanistas, sendo que hoje alguns de seus descendentes, tanto em São Gabriel como em Pedras Altas, são próceres do PT. O “pecado” da proprietária foi ser uma simpatizante confessa do candidato que perdeu as eleições.

Não se deve também desprezar o fato de que São Gabriel construiu sua formação cultural em torno de uma herança fronteiriça, de raízes açorianas, com traços muito distintos da cultura genuinamente missioneira, e não faria sentido extrapolar o vínculo da cidade com a figura de um mito que morreu muito tempo antes de São Gabriel existir como povoado. Uma terra que pode se orgulhar de heróis de verdade como Mascarenhas de Morais, Plácido de Castro e Hermes da Fonseca, não precisa importar figuras que satisfazem mais à ideologia dos governantes de plantão do que à história propriamente dita.  E de mais a mais, soa bastante estranho celebrar a memória do índio que teria dito “esta terra tem dono”, expulsando os donos da terra.


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5 comentários:

  1. Primeiro, há historiadores, fatos e documentos que comprovam que a frase "Esta Terra tem Dono" não foi proferida de fato por Sepé Tiarajú, e sim, pelo índio Guaiacurú (se não me falha a memória) na redução de Guaíra, atual estado do Paraná, alguns séculos antes do nascimento em São Luiz Gonzaga, do índio José Tiarajú. Sepé Tiarajú era muito mais do que um simples "funcionário subalterno de um projeto de dominação espanhola", além de alferes real, assumiu muito jovem o cargo de corregedor da redução de São Miguel Arcanjo, por ser um home que se destacava em todos os quesitos naquela redução. O cargo de corregedor, para quem não sabe, seria como hoje o cargo de prefeito, e estava ele nesse posto na época da Guerra Guaranítica. Ao saber que teria que entregar cidade que seu povo demorou tantas gerações para erguer ão pensou duas vezes para defendê-la, não há provas de que não tenha sido de fato um guerrilheiro, que lutou sim para não entregar as reduções. Não concordo de maneira alguma que "a recente lei federal 12.032/09, que inscreveu o nome de Sepé Tiarajú no Livro de Aço dos Heróis da Pátria" seja uma ironia, mesmo que Sepé e seus irmãos tenham lutado contra as coroas PORTUGUESA E ESPANHOLA, nada mais fizeram do que defender as Missões, há que se entender, as Missões eram SUA PÁTRIA! E há pouquíssimos nesse mundo que hoje fariam o mesmo pela sua terra, seu chão, seu país. Realmente existem muitos historiadores que tem a opinião de que Sepé não é um herói Brasileiro, mas o chão que ele lutou pra defender faz parte do nosso país. Bem ou mal, esse mito acompanha a história do RS e faz parte do imaginário e do coração dos gaúchos, sendo que muitos dos ideais do nosso povo tem muito a ver com os dos guaranís, como o de amar tanto a terra de onde vem.
    O fato desta cidade possuir vários outros heróis não dá o direito de desmerecer um vulto histórico tão significativo quanto o herói missioneiro. Acontece, que muitos dos moradores daqui mesmo não fazem a menor ideia de quem são seus heróis, não sabem os nomes, quem foram, o que fizeram, o que conquistaram, necessitam de uma chuva de cultura. Quando cheguei aqui fiquei fascinada pela riqueza histórica e cultural de SG, mas triste por ver como ela é pouco valorizada. Infelizmente quando surge a oportunidade de cultuarem a memória de um dos maiores heróis do RS querem simplesmente erradicar a ideia por ele nãos ser de fato Gabrielense. Pessoas que lutam pelos seus ideais devem ser lembradas sempre e em qualquer lugar, não importa se não é a cidade onde nasceu ou onde conquistou determinado feito.E Sepé meus caros, não se trata de uma figura importada de maneira alguma, ele é um mito nosso, de todos os gaúchos, ademais, São Gabriel faz parte da sua história, assim como São Luiz, São Miguel, Santo Ângelo...
    Penso que esse memorial já deveria ter sido feito há muito tempo, por qualquer governo que fosse, como já era o plano em 2006, ano dos 250 anos de Sepé. Não recordo de quem era o governo,mas a compra da terra que está sendo desapropriada já estava em andamento, não sei quem desistiu da compra, se foi o comprador ou o dono da terra.
    Mas enfim, como SG é uma terra onde "alfinetadas" políticas regem as opiniões de muitos, não importa quem fosse que fisese esta desapropriação ou que comprasse a terra ou que construíse o memorial, sempre teria alguém para criticar e encontrar argumentos políticos contra a decisão do governo. O que me deixa triste é ver a saga de Sepé Tiarajú e a sua luta e amor pelas Missões sendo menosprezada por puros motivos políticos. Abomino isso.
    E pra quem quiser saber, sou missioneira sim, me orgulho disso e dos feitos do povo de lá. Amo meu chão tanto quanto Sepé amou. Mas também admiro profundamente os heróis daqui e muitos outros de outras paragens, assim como o grande guerreiro das Missões.

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    1. Excelente comentário Letiane. Realmente não precisamos de opiniões ou comentários que desmerecem vultos históricos e principalmente com grande teor cívico como Sepé Tiaraju. Recentemente visitei as Missões e fiquei encantado com a beleza e grandiosidade daquele sítio histórico e com a cultura do povo que construiu e habitou aquele solo sagrado. Todo o texto referenciado é pontuado por um grande ranço político, de pessoas que teimam em "remar para trás", em manter São Gabriel neste ostracismo histórico e inculto, desapegado de seus mais caros valores éticos, morais e principalmente históricos. E também o velho ranço "pseudo-religioso" que observa apenas seu próprio umbigo... Lembro de um tempo em que um conhecido radialista de nossa cidade esbravejou a plenos pulmões que São Gabriel estava limpando o lixo das ruas rumo ao progresso, quando uma retroescavadeira derrubou as paredes da Igreja do Galo, e agora vejo isto novamente sendo prenunciado. Quem perde somos nós todos, independente de bandeiras ideológicas e políticas. Progresso sim, mas com ordem, com respeito aos vultos heróicos do passado e aos nossos "mitos", por que não? afinal são estes mitos, esta tradição e este apego às coisas do passado que movem os povos inteligentes rumo ao futuro.

      Ivonir Leher - Acadêmico de Filosofia

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  2. Permito-me discordar aqui das abordagens feitas por Ivonir Leher e Letiane, ao comentar esse texto. Quando um acadêmico de filosofia declara que "não precisamos de opiniões ou comentários que desmereçam vultos históricos", fico preocupado. Primeiro, porque não se trata de desmerecer os mortos, mas sim de se resguardar os direitos dos vivos. E segundo, porque quando um candidato a filósofo declara que "não precisamos de opiniões" das quais ele não gosta, sinto o desagradável cheiro da censura e do autoritarismo intelectual. Sempre é bom lembrar o conceito da socialista Rosa Luxemburgo: "Liberdade é, sempre e necessariamente, a liberdade dos que pensam diferente".
    Aceitamos plenamente que um memorial seja construído, mas a área doada à Prefeitura, onde presumivelmente teria morrido o guerreiro guarani, possui dimensões mais que suficientes para este fim. Lançar mão de uma vultuosa desapropriação quando o próprio governo alega dificuldades de caixa, é um disparate que satisfaz apenas ao interesse ideológico dos que transformaram Sepé num "Che Guevara missioneiro".

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  3. Creio que quando o senhor Ivonir Leher escreveu as palavras "não precisamos de opiniões ou comentários que desmereçam vultos históricos", com certeza ele estava se referindo unicamente a forma como o senhor, autor desse texto, descreveu Sepé Tiarajú, dando a entender que o mesmo seria um mero ser inventado e que na realidade foi "um ninguém". Ele não é mais nem menos do que qualquer um dos heróis gabrielenses. Digo e repito, Sepé não foi transformado em nada, ele é o que a história conta através das gerações, e fico extremamente feliz por finalmente alguém aqui em São Gabriel estar se dando conta disso. Que venham as críticas, como eu disse, elas sempre virão. Só espero que não sejam elas que derrubem essa ideia e iniciativa fantástica de valorizar a história.

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  4. Pois bem, precisamos evoluir muito ainda para que sejamos um povo respeitado e valorizado, pois nossos gabrielenses que "pensam" estão mais preocupados com a política podre e oligárquica local do que com cultura. Alíás, citando o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida mirando-se o futuro”... que bom seria se palavras de impacto fizessem o mesmo efeito de tijolos assentados..., que bom seria se ainda vivessem entre nós o mesmo espírito construtor, guerreiro e patriótico (Pátria em seu sentido de amor ao solo sagrado) que tinham os guaranis, sob a orientação jesuítica (que alguns historiadores "feitos a facão" teimam em chamar de dominação, pois não agrada sua formação acadêmica embalada pela fumaça). Dou o assunto por encerrado, afinal, "idéas não são metais que se fundem", como falou outro ilustre herói subjugado por ideologias pútridas... e que viva a liberdade sim dos que pensam diferente, como nos lembra o Pastor Cláudio, homem de grande cultura. E por fim quando a expressão "candidato a filósofo", não tenho esta pretensão, afinal estou contente com o que faço e resolvi me aprofundar nos estudos filosóficos justamente para não ser mais um cordeiro rumo ao matadouro; para que tenhamos um pensamento mais crítico frente ao mundo onde vivemos e principalmente para não cair neste "papo político do atraso" que impera em quem insiste em viver no terceiro mundo! Adelante!! e viva Sepé!!

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