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Delírios do Tapete Vermelho
A memória fashion resgata os piores do Oscar
Pernas, braços e costas cobertos de tecido preto. O peito revela a camisa branca, limpa e na garganta circunda a gravata borboleta. De costas são todos iguais – todos homens, todos atores no tapete vermelho do Oscar. Pobre sexo, que não pode se aventurar em luxuosos e grandiosos vestidos Dior (ao menos não correm o risco de cair). Alguns machos estão inovando: smoking de veludo bordô, brinco de diamantes, kilt escocês.
Excesso de frufrus e fitas na cabeça, excesso de egocentrismo, excesso de opções – a saturação é tanta que aumenta o risco de equívocos. A fulana famosa do filme “x”, não concorre a nenhuma estatueta. É bonita, mas não a mais estonteante. É gostosa, mas não tem peitos nem bunda suficientemente grande. É simpática, mas não talentosa para um dia ser indicada ao Oscar. Perto de qualquer outra mortal, esta atriz mediana pareceria uma deusa grega, mas no meio de tanta gente “talentosa” ela se desespera. Na tentativa de aparecer, ela simplesmente se parece com um globo reluzente, ao colocar todos os brilhos, swarovisk, spikes e rojão de festa junina.
Todos os meros mortais, que pareceriam descendentes do Shrek, perto da tal “famosa”, ficam consternados com a falta de tato da pobre rica e sem noção. Alguns até se arriscam a afirmar que se fossem dignos de caminhar sobre o tapete vermelho, teriam o bom senso de não ir fantasiado de rainha das trevas. O excesso de sabe sei lá o quê na cabeça (talvez de dinheiro, futilidades e calmantes) combinados com a falta de outro aquilo lá (que pode ser o bom senso, espelho e um amigo para dizer: “você vai assim”) resultam em combinações catastróficas.
O intelectual francês, Gilles Lipovetsky, - que está no Brasil apresentando palestra sobre o luxo – já relatou o quão é um ser humano necessitado do ter e parecer como reação à sociedade pós-moderna, que prioriza as relações mundanas entre as reflexões interiores. Sem desejar desmerecer o mundo da moda, o pensador problematiza questões e aponta as feridas de uma sociedade imediatista e vazia. Os tapetes vermelhos exaltam os modelos de corpos e mentes idealizados e endeusados por todos nós. E quando um destes deuses do cinema mostra que também deseja atenção e que precisa amarrar um cisne para ser visto, nos sentimos menos comuns e mais compreendidos.
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