Marcel da COHAB
Colunista do blog
Senso crítico é algo que temos obrigação de exercer. Por isso, mesmo sendo um quase anônimo compositor de samba da longínqua São Gabriel, me permito criticar o famoso e talentoso Alexandre Pires. Até por que nós anônimos criticamos a presidente da República, o Governador, o craque da seleção e assim sucessivamente. Tudo isso é o exercício do senso crítico.
Alexandre Pires é um dos símbolos da nossa geração de sambistas (da faixa etária dos 30 aos 40 anos). Todos conhecem a história do “mineirinho” que começou com roupas de gosto duvidoso, cabelo de gosto duvidoso e um bigodinho também de gosto duvidoso, mas com uma qualidade musical já latente.
Posteriormente, sua carreira solo o lançou internacionalmente e ele gravou inclusive em espanhol. Para coroar, um DVD na sua cidade, Uberlândia, com participações pra lá de especiais, como Alcione, Daniel e Ivete Sangalo, que produziu o espetáculo.
Entretanto, o segundo DVD decepciona. Não só por repetir quase todas as músicas do primeiro, mas por parecer, por vezes, o Circo de Soleil, tamanha a encenação (não que eu não goste do Circo de Soleil mas eu esperava ver samba).
Como todo o DVD é um espetáculo, deixemos de lado a parte cenográfica. O problema é ver Alexandre Pires, músico, artista, cantor de muitas qualidades, cantando músicas como “Sissi”, de uma pobreza poética latente. “Ela se acha a última Coca-cola do deserto, a bunda mais linda do pagode esperto”...isso dói nos olhos e ouvidos.
A parceria com o grande Seu Jorge já não havia produzido o esperado com “Eu sou o samba” que é simplezinha demais, comunzinha demais para o tamanho desta parceria, mas “Sissi”, cujo trocadilho “si sentindo, si achando” é lamentável.
Para seguir no caminho da decepção, Alexandre grava “Kong” que é acusada de apologia ao racismo, mas poderia ser acusada de “assassinato de um artista”. Eu poderia colocar toda a letra aqui, mas eu respeito os leitores, mas para quem ainda não viu, temos uma passagem que diz “Tem base o trem é bão!/A pulseira dessa mina algemou meu coração/Tem base é pra acabar/É no pelo do macaco que o bicho vai pegar”...nada a declarar.
E segundo consta, vem aí um DVD em que Alexandre Pires conta “Lua de Cristal” com a Xuxa. Fãs do Alexandre Pires, não fiquem brabos comigo, afinal sou um de vocês. Mas não dá pra aguentar desperdício de talento. Não me conformo em ver um grande artista brasileira seguir uma linha comercial tão ruim (linha comercial ruim é uma redundância).
Nesses tempos de campanhas via rede social, sugiro uma campanha “Volta, Alexandre Pires”, volta pro samba, você tem talento para gravar os grandes mestres do Cacique de Ramos, os poetas da Mangueira, o Noel Rosa e tanta gente que faz samba de verdade e de qualidade. Não caia na onda do “lêlêlê”, do “Bicho vai pegar”, por que já basta gente sem talento cantando coisa ruim, agora vem você, com tanto talento também cantando coisa ruim.
Seu visual hoje já não é de gosto de duvidoso, mas o seu repertório...! Do contrário, voltarei a ouvir aquelas canções maravilhosas que você cantava quando usava roupas de gosto duvidoso, cabelo de gosto duvidoso e um bigodinho de gosto duvidoso.
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