Alunos e Reitora ficaram frente a frente na entrada do Campus II da Urcamp São Gabriel: tensão à flor da pele |
E um dos momentos mais esperados de mais uma crise da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), aconteceu na noite desta terça-feira (29). Após ter sido anunciada diversas vezes sua vinda e não concretizadas, finalmente a Reitora da instituição, Lia Quintana, veio à São Gabriel, em um encontro de ânimos exaltados. Após uma reunião que durou mais de três horas - que inicialmente teve a imprensa barrada, mas por pressão dos acadêmicos, conseguimos entrar logo após -, os alunos concordaram em retornar às aulas sob condição de que um conselho gestor possa avaliar a real situação das contas entre os Campus Bagé e São Gabriel.
Alunos aguardaram a chegada de Lia desde o final da tarde |
Clima tenso
Desde às últimas horas da tarde, os acadêmicos já esperavam a vinda de Lia Quintana, confirmada na terça-feira. Ela não teria vindo por conta de que estaria em reunião do Conselho Diretor da Fundação Áttila Taborda (FAT), mantenedora da Urcamp. Aos poucos, a partir das 18h30, o movimento dos acadêmicos foi se intensificando, no aguardo de Lia. O clima estava começando a ficar tenso. Telefonemas da própria Reitora confirmaram sua presença, mas ela ficou retida na BR-290, em virtude de um acidente nas proximidades do Inhatium. Enquanto isso, o grupo de alunos ia se tornando maior, com a chegada dos ônibus de Cacequi, Rosário e Santa Maria, onde gritos de protesto e faixas eram exibidos junto à barricada montada com pneus e pedras.
Por volta das 19h49, a comitiva da Urcamp chegava em um microônibus no Campus II, sendo recebida com fortes protestos, onde todos os integrantes da Reitoria desceram, menos Lia. Em conversações - pontuadas por fortes discussões - do Procurador Jurídico da Urcamp, Jorge Luiz Framil Fernandes com os acadêmicos do movimento, negociaram a vinda da Reitora para responder questionamentos dos alunos. Assim, Lia respondeu aos alunos, em um clima marcado pela animosidade constante. Ela informou que o estatuto não permite eleição direta para pró-reitor, e que para fazer mudanças, a universidade teria que ter negativas de débitos junto à União, o que não é permitido.
Em vários questionamentos, manifestações expressavam o limite em que os estudantes se encontravam, na paciência e temperamento. O momento mais crítico foi quando após um questionamento sobre sua renúncia, a Reitora deixou claro que para ter renúncia, teria que haver uma grande representação dos alunos na totalidade. "Vocês não representam a Urcamp", falou em um primeiro momento, gerando manifestação furiosa dos alunos; depois ela retificou, dizendo que o total de alunos de São Gabriel chega a 10% da Urcamp. Ela salientou que todos os campus estão penhorados, não somente São Gabriel. Ela informa que, conforme resposta enviada ao blog dias atrás, que esta retirada de dinheiro corresponde à alunos gabrielenses que estudam em Bagé, que pagaram em São Gabriel.
Sobre o FIES, o Campus não teve número suficiente para receber recursos, e ao Programa de Ensino Superior (Proesc), que os recursos no total de R$ 1,8 milhão, não teriam sido repassados pelo Campus local, o que gerou forte protesto e questionamentos. Sobre a sucessão do pró-reitor, foi a única pergunta não-respondida. "Nós não temos um nome por que não escolhemos ainda", respondeu. Perguntada pela repórter da Rádio Marajá AM, de Rosário, e acadêmica de Educação Física Nina Bernardes, sobre punições a líderes do movimento, Lia salientou que se entendesse que houvesse desrespeito, iriam ser aplicadas.
Imprensa impedida de entrar
Momento da entrada de Lia no Campus |
Depois de meia hora de conversação entre os dois lados, sempre pontuados pelo ambiente tenso, a Reitora se recolheu novamente ao microônibus e só viria se pudesse entrar. Após o impasse, Lia Quintana ingressou no Campus, sendo seguida pelos alunos. Um grupo de oito acadêmicos foi autorizado a entrar na reunião entre professores, funcionários e Reitoria. A imprensa presente - entre eles, o blog+jornal Caderno7 e a Rádio São Gabriel - foi convidada a se retirar, gerando mais um momento de tensão. Após muita pressão dos alunos, a imprensa foi autorizada a entrar.
Ela informou, então, que o total de dívidas da Urcamp - entre impostos, INSS e dívidas trabalhistas - chega à absurda cifra de R$ 240 milhões. O ex-pró-reitor, Antônio Bevilacqua, informou que não havia sido acordado o pagamento de 18%, mas na verdade 6%, o que foi negado por Lia. Documentos foram apresentados pelo professor Marco Antônio Neto, que fazia a assessoria financeira de forma voluntária para o Campus São Gabriel. "Todas as despesas foram apresentadas sempre aos professores e alunos, nada era posto em sigilo. Estamos dispostos a fazer o encontro de contas com a Reitoria, se necessário", declarou Bevilacqua.
Primeira parte da reunião, vista do lado de fora do auditório |
Em alguns momentos, a tensão voltava à carga. Ao responder um questionamento do professor Neto, que complementava não ter domínio da palavra por ser contabilista, Lia Quintana disparou que "era engenheira e tinha plena retórica". Perguntada se a prática poderia não ser repetida novamente, com negociação, Lia responde que seria possível construir um entendimento, mas com repasses feitos regularmente e mensalidades pagas, título que não é do campus, vai ser bloqueado em todas as tesourarias. Orientará para que os alunos que estão fora do seu campus sede, pague na rede bancária, não na tesouraria. Reiterou que a situação foi negociada.
Lia Quintana ainda informou que o Campus estaria deficitário e com poucos cursos - o que foi contestado pelos presentes - para poder manter seus custos. Em sua manifestação, Framil salientou que "a Urcamp trabalha em negociação com O Governo Federal, do contrário, vamos perder a filantropia. A Universidade como um todo, está na berlinda".
Alunos voltam às aulas, condicionando à entendimento
Bevilacqua afirma que está disposto a encontro de contas com Bagé |
Os professores de São Gabriel rebateram diversas afirmações. O professor da Urcamp São Gabriel, Daciul Ebre foi direto: propõe que Bagé assuma o sacrifício de cortar parte dos salários para equilibrar a folha de pagamento, assim como foi feito em São Gabriel. Em sua vez, o professor Carlos Eduardo Gerszon salientou que sobre o patrimônio do Campus local, ele reforça que o mesmo foi constituído única e exclusivamente por São Gabriel, pertencendo à comunidade.
O professor Cosma Thomas informa que havia inconsistência de dados dos contracheques, onde reclamou a Bagé, e não sabe o que está acontecendo. "Estes números são confiáveis ou não?" ele questiona. Após vários confrontamentos, se decidiu pela formação de um conselho gestor, formado pelos professores Ana Paula Torres, Varlei Perez (responsável pela gestão provisória), Duilo Souza Matos, Marco Antônio Neto e Carlos Eduardo Gerzson, que se reunirá com uma comissão a ser montada pelo Campus Bagé para avaliar esta questão das contas, e que os alunos passarão a ser ouvidos nestas decisões, além do retorno das aulas.
Após três horas de reunião, após a meia-noite de quarta, foi encerrada a conversa e desfeito o protesto, neste primeiro momento. Confira o áudio do momento mais tenso do encontro entre a Reitora Lia Quintana e os acadêmicos, onde gravamos na íntegra, em mais de 30 minutos:
OBS: Em todos os momentos, oferecemos espaço à Reitoria para se manifestar, o que não foi correspondido. Relatamos toda a verdade dos fatos, e ainda temos material para ir ao ar, onde queremos relatar o que está acontecendo com a Urcamp. A redação está a disposição para quaisquer esclarecimentos.
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