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Na edição de hoje de Zero Hora, Totonho Villeroy conta as memórias de sua juventude no verão em São Gabriel (Foto Beti Niemeyer/Especial) |
Dentro da série "Houve uma vez no verão", que o jornal Zero Hora vem publicando com personalidades gaúchas, sobre como eram suas férias na infância e juventude durante esta época, o entrevistado desta quarta (25) foi um conhecido da casa, que está fazendo sucesso na música. O gabrielense Totonho Villeroy recordou as memórias de suas férias no interior.
Villeroy dividia as férias entre a praia e a Cabanha do tio - Cabanha Santa Maria; Villeroy é primo de Benedito Franco (Didito), proprietário da Cabanha - e em uma lida campeira, relata sua história de verão. Confira as memórias contadas por ele na edição de ZH:
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O cantor na infância (arquivo pessoal) |
"As férias de verão da minha infância eram imensas. Eu sempre passava por média no colégio e, quando acabavam as aulas, no começo de dezembro, olhava o futuro em perspectiva, vislumbrando banhos de piscina, Natal, Réveillon, depois algumas semanas na praia e um período na fazenda do meu tio, em São Gabriel.
Quando estava com 11 ou 12 anos, numa dessas temporadas campeiras, passei por um perrengue que me ensinou a ver o valor que devemos dar à água. O fato aconteceu numa lida de campo em que fomos com a peonada pegar o gado de uma invernada distante da estância para banhá-lo em uma fazenda vizinha, que ficava mais próxima daquele lote.
Quando o serviço foi concluído, rolou um churrasco de ovelha daqueles de engraxar os bigodes. O calor era quase sólido, e o ar, de tão seco, fazia ouvir-se o esqueleto dos insetos estalando. Os peões proseavam, contando a história da briga da mulher de um tratorista com dois brigadianos no baile do Clube das Canas.
E, em meio a risadas, serviam-se de cerveja, alheios a mim, a meu primo Didito e a Aristo, filho do capataz, que já secávamos por dentro, sem ter nada que pudéssemos beber. A casa da fazenda estava fechada, e as torneiras do lado de fora, quase emperradas, não davam notícia de uma gota sequer. Foi então que tivemos a ideia de procurar frutas no pomar.
Depois de muito vasculhar, encontramos uma horta mal cuidada com algumas melancias. Pegamos a maior e mais madura e a levamos a quatro braços até uma sombra, pois sabe-se que "não presta" comer melancia quente. E ficamos ali, olhando para aquele fruta gorda e tocando-a com os dedos, de vez em quando, para ver se havia resfriado.
Enquanto isso, a garganta continuava secando, e o suor, escorrendo. Acabamos dormindo, provavelmente com o sono povoado por camelos e miragens, até ouvirmos o grito de um peão chamando para retomar o caminho "das casa".
Voltamos sob mais duas horas de sol, os cavalos a passo curto, até chegarmos à estância, onde nos jogamos na geladeira, secando jarros de água e seguindo direto para o açude, para recuperar a alegria do dia. E, a alguns quilômetros dali, debaixo de alguma figueira, esperava-nos intocada nossa bem aventurada melancia"
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