Marcel da COHAB
Colunista do blog
Impressionante como hoje em dia, certas coisas -que num passado nem tão distante eram coisas excepcionais – viraram vulgares e estão presentes em todos os momentos e manifestações do ser humano. Numa reportagem da televisão, vejo um homem (?) – registra-se aqui que esta interrogação é no sentido de questionar o homem humano e não a sua sexualidade, antes que me interpretem mal – que acabara de ser preso por estuprar, bater, manter em cárcere e, pasmem, arrancar um dente de sua mulher de alicate, dizer “eu amo ela”. O “eu te amo” está vulgarizado, o que era a mais bela declaração de amor, virou tentativa de (re)conquista da cara metade. Nas novelas televisivas, volta e meia o malandro adultero e/ou conquistador utiliza-se da expressão para “fisgar a presa”. “Eu te amo” já foi especial, excepcional, hoje, virou clichê. Só que, ao passo que cada vez mais se diz isso, cada vez menos se ama. Quanta contradição!
No futebol nos deparamos com outra expressão: o craque. Outrora tínhamos mais craques, mas o nível de exigência para sê-lo era bem maior. Hoje, basta ter carisma, dar umas pedaladas, um corte de cabelo exótico, comercial na TV...pronto! É craque. É mais fácil ser craque de bola hoje, mas temos menos que antes, quando era mais difícil. Quanta contradição!
E o ídolo? Vale para o esporte e a arte. Apareceu na telinha, virou celebridade já é ídolo. Aliás, nem precisa ser no esporte e na arte, basta aparecer. Fazer algo que dê audiência, mesmo que seja ficar inerte. Aí você vai a programas de entrevista,festas, fala coisas óbvias, idiotices e é aplaudido como alguém de personalidade. Sai à rua dá autógrafo e responde coisas do gênero “como vai seu coração? Tá namorando?”. Não importa que você não tenha o mínimo de inteligência, que a sua vida pessoal esteja exposta em boletins de ocorrência policial, se for mais um rostinho bonito na TV, ou um bordão repetido várias vezes, você é ídolo de alguém, você é espelho para a vida de outras pessoas, a multiplicação da espécie.
Ainda tem o “amigo”. Nunca se teve tantos amigos e, ao mesmo tempo, tão poucos. A amizade é como água na fonte. Quando a fonte está cheia de água, todos estão lá a beber, sorrir e cercar. Quando seca a fonte, um que outro aparece para ver se a mesma precisa de manutenção se está tudo em ordem.
Mas intrigante mesmo é ver que o nosso Judiciário encontra-se abarrotado de processos e que, o cada vez maior número de demandas faz com que os processos demorem mais tempo, tendo em vista que o aumento desta demanda é inúmeras vezes maior que os processos encerrados e faltam funcionários e magistrados para trabalhar. A TV faz uma campanha para que haja conciliação nas causas visando a diminuição do número de processos. Entretanto, a mesma TV vulgarizou o preconceito. Tudo é motivo de processo. Mesmo uma cena de novela em que uma menina pega seu ex-namorado com outra pessoa. Ela horrorizada, fala palavras de baixo calão (como qualquer pessoa normal falaria nessa situação, pois faz parte do sentimento de posse do ser humano) e o que faz o ex-namorado junto com seu companheiro? Fala em processo.
Estamos entrando numa seara onde ter opinião contrária significa ser preconceituoso, onde ficar de cabeça quente significa ser processado, enquanto isso se solta delinqüentes que furtam bolsas nas ruas da cidade graças a uma lei que era branda e agora é mais ainda. Quanta contradição! Parece cobertor curto, tapam a cabeça, mas destapam os pés????
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