Marcel da COHAB
Colunista do blog
Rodrigão é meu amigo de infância, nem mora mais em São Gabriel, está em Santa Maria, e é uma figura muito conhecida de todos aqui na cidade. Íamos ao Estádio Municipal sempre, acompanhar o time local, desde os tempos da S.E.R. São Gabriel na segundona, clássicos contra Uruguaiana e Associação Rosário, tempos de Ademir Veiga, Sirica, Márcio, Rogerinho, Betão e outros.
Ir ao estádio com o Rodrigo era divertido, pois ele era um capítulo à parte torcendo pelo time local (tanto é verdade que no orkut foi criada a comunidade “Já fui no estádio com o Rodrigão). Entretanto, se ele for ao futebol (ou vôlei, ou basquete, etc) hoje, corre o risco de ser processado e até preso. Não, ele nunca agrediu ninguém – bem, na verdade uma vez, um zagueiro de 3 metros do time do São José de Cachoeira que tinha quebrado um jogador nosso e provocado a torcida após o fato -, mas o jeito de torcer do Rodrigão era o jeito clássico de um torcedor aos domingos.
Para sua sorte, ele está longe dos campos, até por que o São Gabriel F.C. está desativado, e vou explicar o porquê do alivio em vê-lo longe do futebol. Primeiramente, sou contra agressão física seja onde for. Violência nos estádios, nas ruas, na sociedade tem que ser punida. Mas, ultimamente estão sendo rigorosos com o tradicional comportamento do torcedor. Certa feita, no Beira Rio, proibiram a entrada de bergamota e laranja (O Wianey da ZH até escreveu uma coluna com o titulo “Por favor devolvam as bergamotas ao futebol”). No interior alguns estádios não deixavam torcedor entrar com o tradicional radinho de pilha. Em Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético só jogam com torcida única, ou seja, o poder público não dá segurança e o clássico perde o brilho por causa de uma minoria que briga, não pode mais vender cerveja só água a preço de ouro.
Outro dia, num jogo de vôlei, um jogador assumidamente homossexual foi chamado pela torcida adversária de “bicha”, a mídia se encarregou de transformar tudo em homofobia, o clube (Cruzeiro de Belo Horizonte) punido etc... Quanto a questão da homofobia eu vejo da seguinte maneira: jogador homossexual não pode ser chamado de “bicha”, mas o que não é homossexual pode. É isso? Pense no centroavante adversário sendo chamado de “bicha”, ao fim do jogo ele se queixa à autoridade policial que pergunta: “O senhor é? Se for é homofobia, se não for é injúria”. Imaginem o já atribulado judiciário ao final de cada jogo de futebol/vôlei/basquete!!!!! Cada fim de semana quantos novos processos seriam aforados???
Rodrigão chamava os adversários assim, chamava o juiz de “filho da puta”, “ladrão, tu tá roubando!”. Rodrigão era homofóbico, injurioso, difamador e calunioso e eu não sabia. Claro que estou sendo irônico, assim como esse meu amigo, no estádio víamos médicos, empresários, profissionais respeitados todos transformados em torcedor, e todo mundo sabe como se comporta o torcedor.
Ora, o torcedor que está na arquibancada está ali para torcer, cantar, vibrar e xingar. Só não pode bater nos outros, furtar, roubar, nem destruir o patrimônio público ou particular. Quem me conhece sabe que não sou preconceituoso, até acho que o atleta que assumiu sua homossexualidade foi muito homem para fazê-lo, mas cada coisa no seu lugar. Já tiraram as bergamotas, o radinho e a torcida adversária do espetáculo. Agora querem tirar o xingamento, o palavrão... QUEREM TIRAR O RODRIGÃO DA ARQUIBANCADA!!!!
Imagina o torcedor que diz “juiz ladrão”, o juiz vira-se pra ele e diz “prova que sou ladrão...”. Pronto! Calúnia. Ou então “ô careca filho duma puta”...aí o cara diz “careca, não: calvo...e minha mãe não é isso que você disse, você vai ter que provar”, aí pára o jogo para que seja feito uma ocorrência, etc, etc.
Vai chegar o dia que ficaremos nas arquibancadas robotizados tais como os japoneses que sentam-se com a bandeirinha na mão e o sorriso no rosto, não está longe disso acontecer, pois dentro do espetáculo futebol o drible, a comemoração do gol já está virando motivo de cartão amarelo.
E durma-se com tanto barulho!