Marcel da COHAB
Colunista do blog
Nascido em Valinhos, São Paulo, batizado João Rubinato, foi cantor, compositor, humorista e ator. Um dos percussores do samba paulistano, carregado de sotaque italiano, até por ser filho de imigrantes italianos.Completou um centenário de nascimento no ano de 2010.
Dia desses numa roda de samba com amigos, falávamos sobre a obra de Adoniran. Me fixei em “Saudosa Maloca”, cujos versos transcrevo abaixo:
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| Adoniran Barbosa |
Si o senhor não está lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa veia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais, um dia
Nem nóis nem pode se alembrá
Veio os homi cas ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
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| Músico fez composições que ainda estão na memória do brasileiro |
Só um gênio transforma um despejo por ocupação irregular, cominado com uma implosão em um dos maiores clássicos da música brasileira, ainda mais com o “português paulistano” característico de Adoniran. Saudosa maloca foi composta em 1955, e há quase 60 anos ainda é cantada e decantada nas rodas de samba, assim como tantos outros sucessos de Adoniran.
Os hits atuais, os quais nos pedem pra por a mão não sei onde e descer até o chão, ficam na mídia por seis meses, e desaparecem (ainda bem), mas ainda assim nos irritam e nos deixam enjoados diante da falta de criatividade, poesia, melodia e conteúdo, caracterizados por forte cunho apelativo. Mas clássicos como “Samba do Arnesto”, “Apaga o fogo Mané”, “Tiro ao Álvaro” e outros se eternizam e soam como grandes acordes melodiosos e poesia aos nossos ouvidos ainda hoje. É como sempre eu digo: música boa, é música boa, não tem época, não tem estilo ou gênero. Salve, Adoniram.















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