Um vídeo publicado nas redes sociais por uma missionária evangélica provocou forte reação em Rosário do Sul após críticas ao Projeto de Lei nº 29/2025, que reconhece a Umbanda, o Candomblé e demais religiões de matriz africana como Patrimônio Histórico-Cultural Imaterial do município. As manifestações foram classificadas como preconceituosas por lideranças locais, especialmente diante da acusação de que o projeto teria intenção de “doutrinar estudantes”.
O projeto, de autoria do vereador Professor Alessandro Chaves (PDT), foi elaborado em parceria com representantes das religiões de matriz africana da cidade e tem como objetivo promover o respeito à diversidade religiosa, preservar manifestações culturais e combater a intolerância. Em manifestação publicada em suas redes sociais, o vereador reforçou que o texto da proposta não prevê nenhum tipo de imposição religiosa em ambientes escolares.
“Nosso projeto jamais prevê doutrinação nas escolas, até porque existe uma lei que proíbe isso”, afirmou o vereador. Ele também destacou que as religiões afro-brasileiras fazem parte da história de Rosário do Sul desde o período colonial, quando pessoas escravizadas chegaram à região trazendo suas tradições e crenças. “Essas pessoas trouxeram sua cultura, sua religião e suas práticas. É um reconhecimento histórico e cultural que precisa ser feito”, declarou.
A professora Julia Leal, pesquisadora das relações étnico-raciais e militante do movimento negro, também se posicionou de forma contundente por meio de vídeo em suas redes sociais. “Dizer que Rosário do Sul não tem ligação com religiões de matriz africana é negar a presença histórica da população negra escravizada que aqui viveu. É uma fala racista e desinformada”, afirmou. Julia lembrou ainda que a presença dessas tradições se expressa não apenas nas religiões, mas também em manifestações como escolas de samba, grupos culturais e em figuras como o poeta Oliveira Silveira, idealizador do Dia da Consciência Negra.
A educadora também destacou que a inserção de conteúdos sobre culturas afro-brasileiras nas escolas é respaldada pela Lei Federal nº 10.639/2003, que tornou obrigatória a abordagem do tema na educação básica. “Reconhecer essas religiões como patrimônio cultural não obriga ninguém a seguir uma fé, mas garante o direito à existência e à preservação dessas manifestações”, pontuou.
As declarações da missionária repercutiram negativamente entre internautas e moradores de Rosário do Sul. Grande parte da comunidade se manifestou em repúdio ao conteúdo do vídeo, destacando o caráter preconceituoso das falas e a importância da valorização das religiões de matriz africana no contexto histórico e cultural do município.
No vídeo, a autora das declarações incita a comunidade a se posicionar contra o projeto e afirma, de forma controversa, que “não há registros históricos de que as religiões tenham a ver com a fundação, história e cultura de Rosário do Sul”. Outras alegações também foram feitas, mas não se confirmam com base em registros históricos e documentais.
O projeto já foi aprovado em primeira votação e deverá retornar à pauta do Poder Legislativo de Rosário do Sul para segunda votação nas próximas semanas.
NOTA DA REDAÇÃO
A editoria do Portal Caderno7, respeitando a liberdade religiosa e a diversidade cultural, informa que, neste caso, opta por não dar visibilidade à autora das declarações citadas, por entender que houve prática de intolerância religiosa — conduta que não se enquadra, em nenhuma hipótese, no exercício legítimo da liberdade de crença. O portal se posiciona pelo respeito ao projeto apresentado, reconhecendo seu valor histórico, cultural e religioso e a sua colaboração para a história de Rosário do Sul.
Reportagem: Marcelo Ribeiro
Data: 26/07/2025 16h44
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