Elvino Bohn Gass (c) teve nome citado em gravações de operação da PF que foi interrompida antes das eleições. Caso está sendo investigado pelo STF (foto arquivo) |
Com informações do jornal Folha de S.Paulo
Uma operação que foi adiada antes das eleições foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (22), onde interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal detectaram indícios de que recursos do Pronaf foram usados em campanhas do PT no Rio Grande do Sul.
Chamada de "Operação Colono", a operação foi sustada pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, sob a alegação de que as informações foram parar na imprensa antes e de que a ação só poderia ser retomada depois do primeiro turno das eleições.
A investigação resultou em inquérito que está tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF) por haver indícios de um suposto envolvimento do deputado federal reeleito Elvino Bohn Gass (PT), que obteve 571 votos em São Gabriel.
O inquérito revela que dinheiro liberado na forma de empréstimos do Pronaf contraídos no Banco do Brasil em nome de produtores rurais entrou nas contas de uma associação da cidade de Santa Cruz do Sul, a Aspac, e de lá segui para contas pessoais de dirigentes e ex-dirigentes da entidade.
A suspeita de fraude começou a ser investigada porque produtores rurais procuraram a PF e o Ministério Público por não terem autorizado os empréstimos em seus nomes e que tinham assinado papéis em branco que ficaram na Aspac.
A PF quebrou o sigilo de 107 contas bancárias e concluiu que a associação recebeu em créditos, nos 26 mil depósitos, um total de R$ 104 milhões de 2006 a 2012. Destes, R$ 85 milhões vieram do Pronaf.
A investigação se faz necessária por que durante as ligações telefônicas, representantes da Aspac falaram que a entidade tinha dificuldade para quitar dívidas que atingiam mais de R$ 1 milhão. Mas que políticos estavam ajudando na arrecadação de dinheiro.
"Muito dinheiro foi pra campanha do Wilson (Rabuske, vereador do PT) e pra campanha do Bohn Gass (...) E essa dívida que existe está muito ligada a isso. Na mesma conversa, este representante da Aspac disse como Bohn Gass agia para quitar dívidas com o BB. "Vai ser uma espécie de caixa dois, mas (Gass) é o cara que vai ajudar a resolver isso", afirma a reportagem do jornal.
Em outra gravação, Bohn Gass teve uma conversa interceptada, ao telefonar para Rabuske. Ele contou que atuava junto ao então ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas (PT), para conseguir decretos que permitissem renegociação de dívidas de produtores. Ele agradeceu a Rabuske "pela parceria".
A operação seria deflagrada no dia 30 de setembro, com mandados já emitidos pelo STF, mas Janot intercedeu que não haveria tempo hábil para fiscalizar o cumprimento dos mandados. Um efetivo já tinha sido deslocado para a região de Santa Cruz, para este cumprimento. Janot iria fazer isso depois do dia 7 de outubro, mas voltou atrás e pediu o recolhimento dos mandados, o que significa a liquidação da Operação Colono. A imprensa gaúcha falou da operação somente depois que a Folha falou do caso, com exceção do jornalista Políbio Braga, que em seu blog já vinha falando do caso.
O que diz o parlamentar?
O jornal Folha de S.Paulo entrou em contato com o deputado Bohn Gass, para o contraponto e ele disse que "confia na Justiça" e que não teve acesso ao inquérito. Ele protocolou no STF pedido de acesso aos documentos.
"Não tive acesso às informações oficiais. Confio que a Justiça será feita. Estranha-me a coincidência com o momento eleitoral. Não devo, portanto não temo", disse ele.
Bohn Gass surgiu com mais frequência no município após o PT assumir o governo gabrielense, em 2013. Ele participou da reinauguração do Mercado Público, em janeiro deste ano, além de estar presente em eventos do Governo Municipal.